Bebê brasileiro nasceu de um útero transplantado de uma falecida
É a primeira vez na história que um procedimento do tipo é
bem-sucedido. No futuro, técnica poderá ser útil para tratamento de
infertilidade
O Brasil é o segundo país que mais realiza transplantes no
mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Segundo dados do Registro Brasileiro de
Transplantes (RBT), cerca de 27 mil pacientes de todo o país receberam um novo
órgão em 2017.
As partes que mais costumam ser reaproveitadas são córneas,
rins e fígado. Já outras, como pulmão ou pâncreas, por exemplo, são mais raras:
foram apenas 112 transplantes de cada um desses órgãos no ano passado.
Outro procedimento que poderia entrar nessa conta é o
transplante de útero. Afinal, nos pouco mais de 15 anos desde que essa técnica
foi inventada, médicos fizeram só 50 operações do tipo – isso, no mundo todo.
Só 11 delas envolviam doadoras falecidas.
Além do desafio de encontrar um doador compatível e concluir
com sucesso a cirurgia (que envolve conectar veias, artérias, ligamentos e o
canal vaginal), tornar o útero funcional é outra tarefa delicada.
Principalmente no que diz respeito a doadoras mortas: todas as dez tentativas
anteriores, feitas nos Estados Unidos, República Tcheca e Turquia, terminaram
antes da hora.
Em dezembro de 2017, no entanto, aconteceu o primeiro caso
de sucesso. E foi no Brasil, mais especificamente, no Hospital das Clínicas de
São Paulo.
A mulher que protagonizou o feito tinha 32 anos e havia
nascido sem útero devido à síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser. Como
destacou a revista Saúde, trata-se de uma condição genética rara que afeta uma
a cada 4.500 mulheres e suprime uma ou mais estruturas do aparelho reprodutor.
Apesar dessa condição, a paciente tinha ovários e produzia óvulos férteis, que
puderam ser coletados e usados na fertilização in vitro com espermatozoides
produzidos por seu marido.
Para realizar o sonho de ser mãe, a mulher recebeu o útero
de uma doadora de 45 anos, que morreu de derrame cerebral e já havia dado à luz
em outras três oportunidades. A cirurgia para trocar o órgão de corpo aconteceu
em setembro de 2016, e demorou 10 horas e meia.
A mulher transplantada começou a menstruar um mês depois.
Após sete meses, os cientistas colocaram um embrião fertilizado no novo útero.
A gravidez correu sem problemas e, com 35 semanas de gestação, a mãe deu à luz
uma menina saudável, pesando 2.5 Kg.
Os detalhes acerca do caso viraram, inclusive, artigo
científico, que foi publicado na revista Lancet na última terça-feira (4).
Após o parto da criança, o útero da mãe foi retirado. Tudo
para que ela pudesse parar de tomar medicamentos imunossupressores, que impedem
que o corpo rejeite a parte recebida após a cirurgia.
Em comparação à doação feita por uma mulher morta, o transplante
de útero entre vivas é mais caro e complexo. Isso acontece devido ao número de
cuidados que precisam ser tomados. Operar uma doadora sem vida implica em menos
problemas de logística, como o tempo de cirurgia, o número de profissionais
mobilizados para a tarefa e o período de hospitalização, que é dobrado – sem
falar no risco para a saúde de quem doa. Até hoje, doze bebês vivos já nasceram
a partir de úteros transplantados em todo o mundo, seja doado por mulheres
vivas ou falecidas.
Os pesquisadores brasileiros esperam, ainda nas próximas
semanas, repetir o procedimento em mais duas mulheres. Quanto mais casos de
sucesso, maior a chance de o transplante de útero se consolidar como tratamento
para a infertilidade no futuro.
Via | Superinteressante
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