Por que ainda não temos vacina para o HIV?
Complexidade do vírus leva cientistas a atuar em muitas
frentes
Em sua segunda edição no Brasil, a campanha conhecida como
“Dezembro Vermelho” utiliza o último mês no ano para promover discursos de
prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas
que vivem com HIV/Aids. Embora muitos avanços tenham sido alcançados nos
últimos anos, a ciência permanece sem conseguir desenvolver uma vacina efetiva
e aplicável a todas as pessoas.
Algumas razões, a maioria delas ligada à complexidade do
ciclo do HIV no organismo, dificultam o cenário. Uma das características do HIV
é sua alta taxa de adaptação, podendo alterar seus componentes e tornar-se
irreconhecível. Por isso, os cientistas atuam tanto na área de prevenção como na
de tratamento de quem já tem o vírus.
Além de todo o seu poder destrutivo, o HIV é um vírus
inteligente. Ele ataca e sequestra justamente as células T, importantes
componentes do sistema imunológico, usando suas proteínas para se reproduzir.
Isso destrói a células e possibilita que o vírus se espalhe pelo hospedeiro.
“O desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV tem
sido um desafio à luz da natureza do vírus e sua interação com o sistema
imunológico humano; ninguém jamais se recuperou naturalmente de uma infecção
pelo HIV, e não há correlatos que sinalizem quais respostas imunológicas são
necessárias para bloquear ou eliminar o HIV ”, afirma Jill Gilmour, diretora
executiva de Imunologia Humana da Iniciativa Internacional de Vacinas contra a
Aids (IAVI), ao site IFLScience.
“Uma vacina contra o HIV continua sendo uma ferramenta
essencial para deter a disseminação do HIV e acabar com a AIDS. O número de
novas infecções pelo HIV quase não diminuiu nos últimos cinco anos e poderá
aumentar se os esforços de prevenção não forem ampliados substancialmente”,
explica a cientista.
Atualmente, os tratamentos para tornar o vírus inativo,
deixando a carga viral indetectável e impedindo a transmissão, têm obtido
sucesso. Porém, os vírus ainda permanece dentro das células, o que é um campo
com ampla necessidade de estudos.
Cientistas “cercam” o ciclo do vírus
Um dos exemplos mais famosos de vacina contra o HIV é o
RV144, cujos testes foram feitos primeira década do século e não mostraram ter
a eficácia necessária para se oficializar como tratamento. Porém, todo o
conhecimento adquirido com os testes realizados serviram de base para os
estudos seguintes.
Uma vacina produzida pelo Departamento de Saúde dos Estados
Unidos fará os primeiros testes em humanos em 2019. O tratamento consiste em
interromper a comunicação entre o vírus e os peptídeos (cadeias de
aminoácidos), necessária para que o HIV infecte as células. Até agora, a vacina
foi eficaz em 31% dos casos e terá seus efeitos colaterais e limitações de
segurança testados nos próximos meses.
Já um estudo publicado em novembro na revista Science
Advances aborda a via dos anticorpos, afirmando que é possível introduzir
antígenos especiais que estimulem a produção de anticorpos capazes de envelopar
o vírus e impedir sua entrada nas células. A fase dois da vacina já está em
curso e será avaliada até 2022.
Para os próximos anos, espera-se que mais propostas de
vacinas tenham seus testes iniciados em grupos maiores de seres humanos. Apesar
dos bons resultados que algumas vacinas apresentem, assumir a imunização de
toda a população mundial é um passo muito grande para as organizações de saúde.
Embora não seja possível fornecer uma data exata para o
lançamento da vacina contra o HIV, os cientistas estão otimistas sobre a chance
de ser um futuro próximo. É bem provável que a vacina venha em “parcelas”, ou
seja, os tratamentos podem ser aplicáveis inicialmente apenas a certos grupos
ou certas condições, como impedir a transmissão e imunizar bebês ainda na
barriga da mãe. Por ora, o importante é combater os estigmas e avançar nas
políticas de prevenção.
Via | Exame
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