HTLV-1, o vírus “primo” do HIV que ninguém conhece, mas é comum e perigoso
Especialistas explicam tudo sobre esse agente infeccioso,
que segue como um ilustre desconhecido da maioria da população
Suas formas de transmissão são muito parecidas ao do HIV,
causador da aids (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
Todo mundo já ouviu falar do HIV, o vírus da aids. Mas, na
verdade, o primeiro retrovírus humano causador de infecções e de câncer descrito
é o HTLV-1 (ou Vírus T-Linfotrópico Humano do Tipo 1), no início da década de
1980. E não se engane: apesar de pouco conhecido, ele não é uma raridade e pode
provocar problemas sérios.
Hoje, estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas em todo o
planeta estejam infectadas com o HTLV-1. Apesar da transmissão ocorrer em
diversas partes do mundo, sua prevalência varia segundo a localização
geográfica, fatores étnicos e raciais e grupos populacionais mais expostos aos
fatores de risco, como observado na Bahia. No Brasil, estima-se que 800 mil
indivíduos carregam o vírus.
As principais formas de transmissão são: aleitamento
materno, relação sexual desprotegida com pessoa infectada e contato com sangue
infectado. Parecido com o HIV, não? Aliás, no Brasil, a detecção do HTLV-1 foi
introduzida nos bancos de sangue a partir de 1993.
É importante destacar que a maioria dos pacientes permanece
sem manifestar sintomas. No entanto, alguns indivíduos podem apresentar uma
doença inflamatória, a HAM/TSP (sigla para Paraparesia espástica
tropical/mielopatia associada ao HTLV-1) ou um tipo de leucemia chamada de ATL
(leucemia/linfoma de células T). Essas doenças acometem de 1 a 5% dos
portadores do vírus.
A HAM/TSP é uma enfermidade crônica em que há
comprometimento da medula espinhal, usualmente de início lento e progressivo.
Os sintomas principais são alteração de força e dor nas pernas, retenção
urinária e constipação intestinal. A doença afeta mais mulheres do que homens,
geralmente entre os 40 e 50 anos de idade.
Apesar dos esforços em pesquisa, os fatores que favorecem o
surgimento desse problema nos portadores do vírus ainda não são conhecidos. O
mesmo acontece com a ATL, um tipo de câncer que muitas vezes pode matar.
Não há tratamento curativo para o HTLV-1. Os médicos
recorrem apenas a terapias para controlar da inflamação medular, utilizada para
amenizar os sintomas da HAM/TSP, especialmente entre os pacientes em estágio
inicial, quando a inflamação é mais proeminente.
O mesmo também vale para as intervenções da ATL, de impacto
usualmente ainda mais modesto. Por isso é de fundamental importância a
prevenção da infecção pelo HTLV-1.
Conhecimento é chave para o controle do HTLV-1
Infelizmente, a disseminação desse vírus em diversas regiões
do nosso país e do mundo não foi suficiente para a Organização Mundial da Saúde
incluir o HTLV-1 na lista de doenças negligenciadas. Dessa forma, joga-se menos
atenção para o tema. E a falta de conhecimento sobre ele dificulta o
diagnóstico da infecção e a prevenção da transmissão do vírus.
Assim, é essencial disseminarmos informações sobre este
agente infeccioso e ampliarmos o controle das formas de disseminação. Por
exemplo: poderíamos fazer a triagem do vírus durante o pré-natal, o que ainda
não está disponível de forma universal na rede pública de saúde.
Até por isso a Associação Internacional de Retrovirologia e
vários grupos de pesquisadores, em parceria com ONGs de portadores do vírus,
organizaram pela primeira vez, no último dia 10 de novembro, o Dia Mundial de
Combate ao HTLV. Tratou-se de um evento mundial com o intuito de informar sobre
esse vírus. Embora a campanha tenha acabado, pedimos a todos, inclusive você,
que fiquem atentos a esse inimigo da saúde.
*Augusto Penalva é neurologista e coordenador do Grupo de
Neurociências do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Rosa
Marcusso é matemática e gerente executiva do mesmo grupo.
Via | REVISTA SAÚDE
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