Dados preliminares divulgados nesta quarta-feira pelos
Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na silga em inglês)
mostram que pessoas com idades entre 20 e 44 anos representam quase um terço
dos pacientes com coronavírus do país cujas idades são conhecidas.
"Eu continuava ouvindo: oitenta por cento dos casos são
leves", disse Christian Heuer, 32 anos, que deu positivo para o vírus, ao
New York Times. Ele teve febre por ao menos seis dias. “Isto não é apenas um
nariz escorrendo. Você está realmente doente." A namorada dele, Natasha
Wynnyk, 28 anos, se sentiu bem por vários dias depois que Heuer ficou doente.
Mas a febre aumentou e ela começou a sentir dores fortes e agudas nas costas,
nas articulações e nos dedos, que ela comparou com a sensação de ser esfaqueada.
Apesar de as chances de internação hospitalar ou morte por
Covid-19 serem maiores entre idosos, jovens adultos, de acordo com a análise do
CDC, podem desenvolver doenças graves: dos 508 pacientes internados em
hospitais, 20% tinham entre 20 e 44 anos.
Se no início a pandemia de coronavírus não parecia assustar
tanto os jovens e jovens adultos por não integrarem o chamado grupo de risco,
recentemente este cenário vem mudando. Em diversos países atingidos pela
doença, a preocupação com esta faixa etária vem aumentando, e não só porque os
jovens se expõem socialmente mais ao contágio. É que os jovens também podem ter
quadros graves da Covid-19 caso tenham comorbidades, como diabetes ou problemas
respiratórios prévios.
— Acredita-se que os jovens tenham uma resistência natural
ao vírus pela sua imunocompetência (capacidade da imunidade responder a um
antígeno). Mas, se ele tem alguma comorbidade, como asma ou diabetes, essa
doença crônica acaba o equiparando ao grupo dos idosos em risco da Covid-19
grave — explica o infectologista Edimilson Migowski, coordenador de relações
exteriores da UFRJ, que segue: — É o momento de se cuidar, por si e por todos.
Cada um que se infecta vai infectar, em média, de três a quatro outras pessoas.
Nos EUA, movimentos nas redes sociais e relatos de jovens
que já passaram por isso tentam chamar a atenção de seus pares:
"A mensagem tem sido: se você for mais jovem e
saudável, ficará bem, mas acho que é uma mensagem errada", disse Mila
Clarke Buckley, que escreve sobre como viver com diabetes tipo 2 em seu blog,
ao New York Times. "Isso faz com que os jovens se sintam com a
invencibilidade que já sentem sobre sua saúde".
Além dos impactos na saúde física e possível agravamento da
Covid-19 entre aqueles com doenças crônicas, como obesidade, hipertensão e
alguns tipos de câncer, há efeitos na saúde mental. Em comparação com aqueles
na faixa dos 40 e 50 anos, os millennials (com idade entre 20 e 30), têm taxas
mais altas de transtornos mentais como a depressão, que afeta um em cada 20
adultos com mais de 30 anos nos EUA, segundo o jornal americano.
ISOLAMENTO DOMICILIAR
No Brasil, um levantamento do Ministério da Saúde de 2019,
mostra que os atendimentos ambulatoriais e internações no Sistema Único de
Saúde (SUS) relacionados à depressão cresceram, na faixa etária de 15 a 29
anos, 115% entre 2015 e 2018.
Diante disso, o isolamento domiciliar pode trazer impactos
aos jovens que já apresentavam algum distúrbio de saúde mental, especialmente
se moram sozinhos ou têm, por exemplo, ansiedade ou depressão:
— Muitos de nossos millennials já se sentem socialmente
desconectados, e isso exacerba os sentimentos contínuos que essas pessoas já
tinham — disse ao New York Times o psicólogo Benjamin F. Miller.
Aos 34 anos, o americano Will Lanier trabalha em casa,
administrando uma organização de bem-estar e fitness para o público LGBT que
ele mesmo fundou. Ele mora sozinho e se preocupa com a desolação que possa
sentir se as aulas em sua academia forem encerradas.
— Embora muitas vezes as pessoas façam questão de procurar
parentes ou vizinhos mais velhos que moram sozinhos, elas não checam os jovens.
Somos apenas eu e meu cachorro, passamos dias sem conversar com alguém —
afirmou ao New York Times.
Via | Extra
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