Com 14 mil testes de coronavírus na fila, demanda no Adolfo Lutz é o triplo da capacidade atual de análise
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, cerca de 1.200
testes chegam ao laboratório por dia, mas só 400 resultados são liberados
diariamente. Governo estadual prevê expandir capacidade para 1.800 testes ao
dia até a segunda quinzena de abril.
Um problema em praticamente todos os países afetados pela
pandemia do novo coronavírus, a testagem em laboratório também transformou a
rotina do Instituto Adolfo Lutz (IAL), do governo estadual paulista. Com
capacidade atual para processar cerca de 400 testes por dia e uma demanda que,
segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), já chega a 1.200 amostras
diárias, o instituto, que atende a rede pública de saúde, agora tem 14 mil
testes esperando pelo resultado.
No sábado, o número era de 12 mil testes. Para tentar
reduzir esse gargalo, o governo estadual e a Prefeitura de São Paulo dizem que
estão implementando medidas que devem ampliar o número de testes processados
por dia para 10 mil em meados de abril
Enquanto isso, todos os dias veículos de prefeituras da
região Metropolitana se deslocam até a sede do instituto, nas Clínicas, zona
oeste da Capital, para entregar mais amostras coletadas dos pacientes com
sintomas graves e profissionais de saúde potencialmente infectados. Mas, muitas
vezes, eles retornam sem resultados dos exames entregues até duas semanas
antes.
Um secretário de Saúde de uma prefeitura na Região
Metropolitana de São Paulo afirmou à TV Globo, em condição de anonimato, que um
funcionário da prefeitura viaja até a sede do instituto diariamente com novas
amostras coletadas de casos suspeitos de Covid-19. Ele leva entre seis e sete
horas aguardando sua vez para cadastrar os novos pedidos de exame – sua senha
chegou a ser a de número 42.
Depois de 12 dias seguidos voltando para casa de mãos
vazias, na sexta-feira (27) ele recebeu o resultado de 7 exames. Porém, mais de
30 casos suspeitos estavam no aguardo de um laudo só nesse município de menos
de 100 mil habitantes.
"Hoje nós temos capacidade de produção do instituto
Adolfo Lutz, que no começo era de 400 exames dia, hoje já está em mil exames
dia. Dentro da rede que nós estamos montando, o Lutz tem cinco unidades
regionais, tem ainda o Instituto Butantan e os Hospitais Universitários”,
afirmou o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann.
De acordo com ele, no dia 2 de abril a capacidade seria de
realizar mais 3 mil testes por dia e 8 mil exames diários a partir do dia 10 de
abril. “Se fará uma alteração no processamento dos exames do Adolfo Lutz, onde
uma parte pré-exame será feita de forma automática."
Até duas semanas de espera
Nesta segunda, o governo reconheceu que a alta demanda no
Adolfo Lutz tem feito com que o tempo de espera para a liberação de resultados
chegue a até 14 dias. No sábado, a informação oficial era que o tempo médio de
processamento era de 7 dias, podendo chegar a 10. Mas na sexta-feira (27) a TV
Globo ouviu outros relatos anônimos de demoras que já passam desse prazo.
Em uma Unidade Básica de Saúde da Capital, que atualmente
tem a orientação de testar apenas os casos de síndrome respiratória aguda grave
(SRAG) ou em profissionais de saúde, a primeira coleta foi feita em 16 de
março. Segundo um funcionário, na manhã desta segunda, 14 dias depois, o
sistema que indica o status do exame mostrava que ele ainda estava
"aguardando triagem", ou seja, ainda estava na primeira etapa, e não
havia sido submetido à análise em si.
Outro caso é de uma profissional de saúde que teve o exame
cadastrado no sistema em 17 de março. Somente no dia 24, uma semana depois, o
exame dela estava com o status "em análise". Nesta segunda, esse
status ainda não havia mudado.
Em entrevista à TV Globo no sábado (28), Paulo Menezes
explicou que, "dependendo da capacidade do laboratório, ele [teste] pode
ser processado desde alguma horas, 24 a 48 horas".
O problema da subnotificação
Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física Teórica
(IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), integra o Observatório
Covid-19 BR, que tem analisado a evolução diária de casos confirmados. Segundo
ele, o fato de muitos testes estarem parados na fila – alguns há duas semanas –
impacta negativamente a
"A gente trabalha só com casos confirmados. E nos
últimos dias, esse números tem crescido menos do que o esperado. Nós fomos lá
nos dados mais detalhados e verificamos que existe um tipo de represamento dos
exames, dos resultados dos exames", explicou ele.
Medidas para acelerar a análise de testes
O governo estadual espera que a capacidade de testagem para
o novo coronavírus chegue a 10 mil testes analisados por dia em meados de
abril, uma expansão que pode reduzir a fila atual das amostras, e a possível
subnotificação de casos confirmados.
Para isso, uma série de medidas estão sendo tomadas, segundo
as secretarias estadual e municipal da Saúde, e a Coordenadoria de Controle de
Doenças do governo estadual:
Em 11 de março, o Instituto Adolfo Lutz abriu inscrições
para laboratórios solicitarem habilitação para realizar testes RT-PCR em tempo
real para o novo coronavírus. Até a sexta-feira (27), dois laboratórios já
haviam sido habilitados;
Importação de 60 mil kits de testagem para o Adolfo Lutz,
vindos dos Estados Unidos;
O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, afirmou
que emprestou dez profissionais da prefeitura para ajudarem no processamento
dos testes no Adolfo Lutz;
Instalação de um novo laboratório no Instituto Butantan,
para que ele também possa realizar tester para o novo coronavírus, que deve
começar as análises na primeira quinzena de abril, e chegue à capacidade de 2
mil análises por dia na segunda quinzena do mês;
Parceria com cinco laboratórios particulares de médio porte,
com capacidade de realizar 600 análises por dia;
Criação de uma rede com 17 laboratórios, integrada a cinco
núcleos de referência para a coleta de material. Segundo a SES, "a
realização de testes foi iniciada e será ampliada com a aquisição de
insumos".
Via | G1
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