Projeção indica que, sem medidas de distanciamento social
eficazes, infecção pode se espalhar rapidamente por faixa do litoral que vai do
Rio Grande do Sul à Bahia
Um mês após a identificação do primeiro caso de coronavírus
no Brasil, em 25 de fevereiro, o país deve começar a viver uma segunda onda da
epidemia. Se medidas de distanciamento social e redução de deslocamento não
entrarem em funcionamento ou, se uma vez adotadas, não surtirem o efeito
esperado, a infecção pode se espalhar rapidamente por um vasto trecho do
litoral entre o Rio Grande do Sul e a Bahia, onde vive a maior parte da
população. A previsão resulta de uma nova rodada de projeções sobre a
disseminação do vírus Sars-CoV-2, causador da doença Covid-19, apresentada em
25 de março por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação
Getulio Vargas (FGV), ambas no Rio de Janeiro.
Em meados de março, o grupo, coordenado pelo físico Marcelo
Ferreira da Costa Gomes, especialista em modelos de propagação de doenças,
havia divulgado uma projeção de como o vírus se comportaria em uma fase inicial
da epidemia. No primeiro trabalho, os pesquisadores analisaram o fluxo aéreo de
pessoas que partiam do Rio de Janeiro e de São Paulo, as duas primeiras cidades
a apresentaram transmissão sustentada, para outras capitais e municípios de
grande porte. Também consideraram a movimentação de pessoas por via terrestre
entre os grandes municípios, em que trabalham ou estudam, e os municípios
menores, nos quais residem. Concluíram que, além de São Paulo e do Rio, outras
sete capitais (Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Brasília,
Recife e Salvador) e os municípios do Vale do Paraíba teriam transmissão do
vírus.
“Acreditamos estar na iminência da segunda onda, porque os
centros urbanos que tinham alta probabilidade de ter transmissão do vírus já
estão apresentando casos de Covid-19”, relatou Gomes, da Fiocruz, por mensagem
de Whatsapp, em 26 de março. No dia seguinte, o Brasil registrou 3.417 casos da
infecção e 92 mortes. Além de São Paulo e do Rio, os mais afetados pela
epidemia, outros sete estados acumulavam mais de 100 casos, quase sempre nas
capitais.
Na segunda fase da epidemia, o risco de casos importados de
outros países estabelecerem novos focos de transmissão continua a existir, mas
ganha importância a dispersão regional, nos municípios mais conectados por via
terrestre às capitais em que a transmissão já está estabelecida. Segundo os
pesquisadores, nesse segundo momento prevê-se a disseminação para os municípios
litorâneos de uma faixa que vai de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a
Salvador, na Bahia, e nos municípios vizinhos das capitais na Paraíba, em
Pernambuco e no Ceará (o terceiro estado com mais casos, 282, em 27 de março,
segundo o Ministério da Saúde), além do entorno de Cuiabá, em Mato Grosso; de
Goiânia, em Goiás; de Brasília, no Distrito Federal; e de Foz do Iguaçu, no
Paraná (ver mapa). A dispersão por toda essa área pode ser mais rápida ou mais
lenta, a depender da adoção de medidas de distanciamento e isolamento social e
de quanto elas se mostrem eficazes.
Nas simulações mais recentes, os pesquisadores estimaram o
efeito da restrição de viagens entre municípios e do distanciamento social para
reduzir a disseminação do vírus. Eles verificaram que só se consegue retardar
de modo significativo a chegada do vírus a esses municípios quando as duas
medidas – restrição de deslocamento intermunicipal e diminuição do contato
entre as pessoas – são tomadas em conjunto. O fator que mais contribuiu para
reduzir a velocidade de disseminação do vírus foram o distanciamento e o
isolamento sociais adotados em nível local. Sem distanciamento social, os
primeiros casos surgem em um município de 5 a 20 dias depois da transmissão
sustentada na capital – o menor prazo ocorre quando há uma redução de 30% nas
viagens intermunicipais e o maior, quando a restrição é de 80%. O tempo aumenta
para 27 a 70 dias quando um terço da população do município isola-se em casa.
Via | Agencia Fapesp
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