O tipo mais grave de AME geralmente causa a morte do
paciente antes dos dois anos de idade
O remédio famoso por ser o mais caro do mundo já causou mais
de uma polêmica em seus pouco mais de dois meses no mercado.
O Zolgensma é um tratamento para crianças com atrofia
muscular espinhal (AME), uma doença de origem genética que impede o
desenvolvimento adequado dos músculos e que, na sua versão mais grave, costuma
causar a morte antes dos dois anos de idade.
Apesar de não ter cura, existem medicamentos que ajudam a
neutralizar seus efeitos e, dentre eles, o mais revolucionário é o Zolgensma. O
inconveniente, e motivo da primeira controvérsia que ele protagonizou, é seu
preço: US$ 2,1 milhões (cerca de R$ 8,3 milhões).
Essa cifra milionária é o dobro do preço do que era
considerado até então o remédio mais caro do mundo, antes do lançamento do
Zolgensma: o Luxturna, uma droga que custa US$ 850 mil (R$ 3,3 milhões) e trata
a cegueira causada por uma doença hereditária rara.
Embora o Zolgensma tenha trazido esperança a muitos pais, a
notícia de seu preço provocou uma onda de críticas à empresa farmacêutica dona
da patente, a Novartis.
A multinacional suíça está mais uma vez no olho do furacão.
Por quê? Porque a Food and Drug Administration (FDA) - a
agência reguladora que autoriza a venda de drogas nos Estados Unidos - acaba de
descobrir que a Novartis não foi totalmente honesta em seu pedido de licença
para vender este tratamento.
A empresa admitiu sua responsabilidade na quarta-feira (07)
e agora enfrenta a possibilidade de sanções penais.
Uma doença cruel
Aqueles que nascem com AME têm baixos níveis da proteína que
possibilita os movimetnos, a SMN.
O cérebro precisa dela para ser capaz de enviar ordens para
os músculos através dos nervos que descem pela medula.
A AME pode ser de quatro tipos e se manifesta principalmente
na infância. O tipo 1 é o mais agressivo, e é muito raro que crianças que
sofrem dele completem 2 anos de idade.
Os pacientes com os tipos 2 e 3 também têm uma expectativa
de vida reduzida, pois não conseguem movimentar bem ou completamente os
músculos e eles atrofiam.
Os do tipo 4 podem atingir a idade adulta.
Medicamentos dedicados a esses pacientes concentram-se em
aumentar o nível das proteínas que permitem o movimento.
O Zolgensma, por outro lado, é um tratamento genético que
busca reparar genes para que eles sejam capazes de produzir essas proteínas em
quantidades normais.
Ele foi testado em crianças com menos de dois anos de idade
e, dois anos depois, todos aqueles que o receberam em altas doses ainda estavam
vivos e sem a necessidade de ajuda para respirar, de acordo com o jornal inglês
Financial Times.
Três a cada quatro podiam ficar sentados por pelo menos 30
segundos sem qualquer apoio e havia até dois menores que puderam se levantar e
caminhar sozinhos.
Dados manipulados
A Novartis sempre repetiu que trabalha com governos e
companhias de seguro médico para que cubram os custos e possam negociar
pagamentos parcelados.
Além disso, a empresa considera que aqueles US$ 2,1 milhões
a serem pagos para aplicar esta medicação intravenosa uma vez na vida estão
abaixo do que custaria para tratar uma criança por anos com outras drogas cujos
preços geralmente passam dos seis dígitos e que não os libertam de outros
cuidados caros e permanentes, como a ventilação mecânica.
A nova controvérsia, no entanto, não é econômica, mas ética,
pois gira em torno dos dados apresentados para obter a licença.
Segundo a FDA, quando o Zolgensma começou a ser testado em
animais, os estudos produziram resultados que foram manipulados.
Embora o medicamento tenha sido desenvolvida pela AveXis, a
empresa de biotecnologia foi adquirida pela Novartis no ano passado e a FDA diz
que, já em março, a multinacional sabia da manipulação de dados.
"Tomamos a decisão de continuar com nossa pesquisa de
qualidade antes de informar a FDA e outras autoridades regulatórias para
fornecer a melhor informação e análise técnica, algo que fizemos em 28 de junho
depois de concluí-las", disse o executivo-chefe da Novartis, Vasant
Narasimhan, nesta semana.
Segundo Narasimhan, sua intenção não era evitar obstáculos no
processo de obtenção da licença para o mercado americano. A empresa diz que já
está providenciando a "saída" dos cientistas que participaram da
manipulação.
O processo de elaboração do Zolgensma não tem sido o mesmo
desde que foi inventado e a manipulação de dados foi realizada ao comparar a
versão atual com uma anterior.
A FDA não acredita que este incidente tenha comprometido a
segurança dos testes que foram feitos em humanos, por isso não removerá o
Zolgensma do mercado.
VIA | BBC BRASIL
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