Testes em ratos mostram que o sistema imunológico do corpo
destrói as células da retina.
O glaucoma, uma doença que aflige quase 70 milhões de
pessoas em todo o mundo, é um mistério, apesar de sua prevalência. Pouco se
sabe sobre as origens da doença, que danifica a retina e o nervo óptico e pode
levar à cegueira.
Um novo estudo do MIT e do Massachusetts Eye and Ear
descobriu que o glaucoma pode de fato ser um distúrbio autoimune. Em um estudo
com camundongos, os pesquisadores mostraram que as células T do próprio corpo
são responsáveis pela degeneração progressiva da retina observada no
glaucoma. Além disso, essas células T parecem estar preparadas para atacar
neurônios da retina como resultado de interações anteriores com bactérias que
normalmente vivem em nosso corpo.
As células T são responsáveis pela defesa celular. São elas
que regulam o funcionamento do sistema imunológico.
A descoberta sugere que seria possível desenvolver novos
tratamentos para o glaucoma, bloqueando essa atividade autoimune, dizem os
pesquisadores.
"Isso abre uma nova abordagem para prevenir e tratar o
glaucoma", diz Jianzhu Chen, professor de biologia do MIT, membro do
Instituto Koch de Pesquisa Integrativa sobre o Câncer do MIT, e um dos
principais autores do estudo, publicado na Nature Communications nesta
sexta-feira (10).
Gênese do glaucoma
Um dos maiores fatores de risco para o glaucoma é a pressão
elevada no olho, que geralmente ocorre à medida que as pessoas envelhecem e os
canais que permitem a drenagem do fluido pelo olho ficam bloqueados. A doença
geralmente não é detectada a princípio; os pacientes podem não perceber que têm
a doença até que metade de suas células ganglionares da retina tenham sido
perdidas.
A maioria dos tratamentos se concentra na redução da pressão
no olho (também conhecida como pressão intraocular). No entanto, em muitos
pacientes, a doença piora mesmo após a pressão intraocular voltar ao normal. Em
estudos em ratos, Dong Feng Chen encontrou o mesmo efeito.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores procuraram
células imunes nas retinas desses ratos e descobriram que, de fato, as células
T estavam lá. Isso é incomum porque as células T são normalmente bloqueadas de
entrar na retina por uma camada restrita de células chamada barreira
hematotrinina para suprimir a inflamação do olho.
Os pesquisadores descobriram que quando a pressão
intraocular sobe, as células T conseguem de alguma forma atravessar essa
barreira e entrar na retina.
Os pesquisadores geraram alta pressão intraocular em
camundongos sem células T e descobriram que, embora essa pressão induzisse
apenas uma pequena quantidade de dano à retina, a doença não progrediu mais
depois que a pressão do olho voltou ao normal.
Outros estudos revelaram que as células T ligadas ao
glaucoma têm como alvo proteínas chamadas proteínas de choque térmico, que
ajudam as células a responder ao estresse ou a lesões. Normalmente, as células
T não devem ter como alvo proteínas produzidas pelo hospedeiro, mas os
pesquisadores suspeitaram que essas células T haviam sido previamente expostas
a proteínas bacterianas de choque térmico. Como as proteínas de choque térmico
de espécies diferentes são muito semelhantes, as células T resultantes podem
reagir de forma cruzada com as proteínas de choque térmico humanas e de ratos.
Para testar essa hipótese, a equipe trouxe James Fox,
professor do Departamento de Engenharia Biológica do MIT e da Divisão de
Medicina Comparada, cuja equipe mantém ratos sem bactérias. Os pesquisadores
descobriram que, quando tentavam induzir o glaucoma nesses camundongos, os
camundongos não desenvolviam a doença.
Conexão humana
Os pesquisadores então se voltaram para pacientes humanos
com glaucoma e descobriram que esses pacientes tinham cinco vezes o nível
normal de células T específicas para proteínas de choque térmico, sugerindo que
o mesmo fenômeno também pode contribuir para a doença em humanos.
Até agora, os estudos dos pesquisadores sugerem que o efeito
não é específico de uma determinada linhagem de bactérias; em vez disso, a
exposição a uma combinação de bactérias pode gerar células T que visam as
proteínas de choque térmico.
Uma questão que os pesquisadores planejam estudar ainda é se
outros componentes do sistema imune podem estar envolvidos no processo
auto-imune que dá origem ao glaucoma. Eles também estão investigando a
possibilidade de que esse fenômeno possa estar por trás de outros distúrbios
neurodegenerativos e procurando maneiras de tratar esses distúrbios bloqueando
a resposta autoimune.
Via | G1
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