Cada um de nós produz, em média, 8,3 quilogramas de e-lixo
por ano; só 3% segue para centros de reciclagem
Dezoito meses é o tempo médio de vida de um novo smartphone.
Conforme um novo aparelho chega às lojas, outros tantos são aposentados e,
assim, o que era um artigo quase fundamental, vira um problema.
O mesmo acontece com computadores, televisões, videogames e
câmeras fotográficas: no final, sobram 44,7 milhões de toneladas de lixo
eletrônico todo ano, o equivalente a 4,5 mil torres Eiffel.
A estimativa é que, em média, sejam descartados 6,7 quilos
de lixo eletrônico para cada habitante do nosso planeta. No Brasil, o problema
não é menor. Sétimo maior produtor do mundo, com 1,5 mil toneladas por ano,
estima-se que em 2018 cada um de nós jogará fora pelo menos 8,3 quilos de
eletrônicos.
Apesar de um estudo com números de 2016 ter demonstrado que
o reaproveitamento do material descartado naquele ano poderia render R$ 240
bilhões de reais em todo planeta, apenas 20% do lixo eletrônico do planeta é
reciclado. Por aqui, somente 3% são coletados da forma adequada.
Foi justamente para chamar atenção para essa situação que
surgiu o movimento Greenk, que em 2018 realiza a segunda edição do Greenk Tech
Show, entre os dias 25 e 27 de maio, que une a tecnologia à sustentabilidade.
Com diversas atrações, o evento contará com campeonatos de
videogame, uma arena para batalhas de drones, concursos de cosplay, e diversas
palestras. A GALILEU participa na sexta-feira, em um painel sobre a comunicação
da tecnologia na educação.
Mas, já que o assunto é lixo eletrônico, no mesmo dia ocorre
um painel que pode servir de exemplo. O governo da Noruega explica como
consegue dar um destino apropriado para 74% dos equipamentos descartados, mesmo
sendo um dos líderes mundiais na produção relativa desse tipo de resíduo, com 27
quilogramas por habitante/ano
Não existe segredo. Até a metade da década de 1990, 90% do
lixo eletrônico era alocado em aterros sanitários, incinerado ou reutilizado
sem tratamento, expondo as pessoas aos perigosos produtos químicos.
Isso começou a mudar no final daquela década, quando o
governo local começou a implementar regulamentações que obriga a indústria e
importadores, maioria por lá, a coletar baterias e eletrônicos velhos dos
consumidores que não os querem mais, sem custos.
Para isso, as companhias firmam parcerias com empresas
especializadas, que são minuciosamente reguladas e inspecionadas pelo órgão
ambiental norueguês. Junto com os municípios, são os responsáveis por instalar
pontos de coletas, comunicar à população, cuidar do armazenamento, e encaminhar
para a reciclagem.
A ideia é que o ciclo se complete, sendo reaproveitado como
matéria-prima seja dentro ou fora do país. “Os resíduos mais perigosos, como
mercúrio e chumbo, nós tratamos dentro do país. O que não é, é vendido para
todo o mundo”, afirma Ole Thomas Thommesen, conselheiro sênior para Resíduos e
Reciclagem na Agência Norueguesa para o Meio Ambiente.
Apesar do sucesso, é importante considerar que toda a
Noruega, com seus cinco milhões de habitantes, tem metade da população da
cidade de São Paulo. No Brasil a questão é abordada pela Política Nacional de
Resíduos Sólidos, considerada uma das mais avançadas do mundo, por se apoiar na
responsabilidade compartilhada em que cada um dos envolvidos, do consumidor ao
fabricante, são encarregados por uma parte da logística reversa.
Mas falta combinar com todo mundo. Faltam dados sobre origem
e destino desses resíduos, tornando difícil o gerenciamento do volume. Do que é
coletado, porém, grande parte deste descarte é feito em armazéns e locais sem o
devido licenciamento ambiental, ignorando as necessárias medidas para reduzir
os riscos de contaminação ambiental.
Thommesen reconhece que em seu país é bem mais fácil aplicar
tal política pois, segundo ele, a corrupção é baixa e é fácil para o governo
impor regulamentações. “Mas não é impossível fazer nos outros países, só
precisa conseguir forçar as companhias a fazerem o que devem fazer”, diz. “As
empresas não querem fazer, por que isso custa dinheiro, então você tem que
encontrar meios para isso. Essa é a parte mais difícil.”
Enquanto isso o Movimento Greenk tenta fazer sua parte. Em
uma parceria com a prefeitura de São Paulo e o governo do principado de Mônaco,
serão instalados quinze pontos de coleta, sendo 14 em parques da cidade e um na
sede da prefeitura. O material será enviado para os Centros de
Recondicionamento de Computadores (CRCs), que integram programa do Ministério
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Além disso, durante o Greenk Tech Show quem levar algum tipo
de lixo eletrônico para descartar paga meia entrada. O objetivo é coletar dez
toneladas, bem mais que na primeira edição do evento, em 2017, em que foram
coletadas 2,7 toneladas de e-lixo.
Via | Galileu
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