Novo espaço traz partes do corpo muito bem conservadas e mostra como os órgãos, músculos e ossos são complexos e fascinantes
Após quase três anos de reformas, o Museu de Anatomia Humana Professor Alfonso Bovero reabriu as portas para o público e é uma ótima opção de passeio na capital paulista. Localizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), no bairro do Butantã, dentro da Cidade Universitária, o local nos convida para uma viagem por todas as estruturas que compõem o nosso corpo.
Para entendermos direitinho a história desse museu, vamos entrar na máquina do tempo e viajar para 1912, há exatos 105 anos. Nesse período, o médico Arnaldo Vieira de Carvalho, um dos fundadores da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, convidou o italiano Alfonso Bovero para ser o primeiro professor da disciplina de anatomia.
Bovero aceitou o desafio e ficou no cargo até 1937, ano em que morreu. Durante todos esses período, ele colecionou diversas peças do corpo humano, imprescindíveis para o ensino da medicina. Seu acervo, aliás, é um dos maiores do mundo em anormalidades anatômicas. Ele criou a primeira versão do museu, que funcionou durante muito tempo.
Após diversas mudanças na estrutura da USP, os modelos de Bovero foram parar no Instituto de Ciências Biomédicas e ficaram expostos ao público de 1990 a 2014. Mas as peças ficavam em prateleiras, sem nenhum critério.
O novo museu foi pensado e organizado pelo biólogo e anatomista Edson Aparecido Liberti — que, gentilmente, fez um tour comigo pelo local e me contou toda essa história que repasso a vocês. O design do espaço teve a assessoria de profissionais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
E o lugar merece elogios: ao contrário de olhar para prateleiras antigas, o visitante é guiado por um ambiente moderno segmentado nos diversos sistemas que compõem o corpo (nervoso, cardiovascular, reprodutivo…). Em vez de textos gigantes para explicar o significado de cada peça, é possível interagir com um tablet e ter informações pontuais sobre cada uma delas.
No meio do passeio, você conhece o laboratório e o escritório de Alfonso Bovero. A estação conta com livros, instrumentos cirúrgicos, microscópio e máquina de escrever originais do cientista italiano.
O centro de anatomia está aberto de terça a sexta-feira e a entrada é franca. Pelas manhãs, as visitas são exclusivas para excursões escolares com alunos acima de 12 anos — é preciso agendar previamente pelo e-mail mah@icb.usp.br. O público geral pode conhecer o lugar no período da tarde, entre meio-dia e 16 horas.
Confesso que fiquei empolgado com a inauguração de um espaço dedicado exclusivamente à anatomia. Num primeiro momento, as peças podem até chocar os mais sensíveis. Mas, conforme analisamos os órgãos e tecidos, nos naturalizamos e até nos identificamos. Além disso, percebemos aos poucos a importância que elas tiveram para a formação de diversas gerações de médicos e outros profissionais da saúde. Para aqueles que, mesmo assim, permanecem com receio, o professor Edson tem um argumento infalível. “Precisamos ter medo dos vivos, não dos mortos”.
O Museu de Anatomia Humana ainda supre um pouco a necessidade enorme que temos em São Paulo — e no Brasil como um todo — de espaços dedicados à disseminação dos assuntos relacionados à ciência e saúde. Precisamos cobrar das autoridades para que centros como esse se tornem cada vez mais comuns e acessíveis.
Serviço
Museu de Anatomia Humana Professor Alfonso Bovero
Instituto de Ciências Biomédicas III – Cidade Universitária
Avenida Professor Lineu Prestes, 2415 – Butantã
Aberto de terça a sexta-feira, no período da manhã (para excursões escolares com agendamento prévio) e de tarde (para o público geral)
Entrada Franca
Via revista saúde
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