Cientistas encontraram microfósseis que podem ter surgido
entre 3,7 e 4,2 bilhões de anos atrás
FILAMENTOS DE MICROFÓSSEIS (FOTO: REPRODUÇÃO/MATTHEW DODD) |
Ainda assim, é por volta dessa época que acreditamos que o
primeiro tipo de vida surgiu, no fundo do oceano em volta de fendas quentes em
uma parte no fundo do mar que chamamos de circulação hidrotermal. Aqui, fluídos
quentes circulam através de pedras no fundo do oceano, carregando ferro e
outros elementos de pedras para a água ao redor. Os elementos e a energia desse
ambiente o fazem parecer o lugar perfeito para o início de vida.
Para testar essa teoria, meus colegas e eu estudamos um
grupo antigo de pedras em uma região chamada o cinturão de Nuvvuagittuq, no
nordeste do Canadá, que tem entre 3,7 bilhões e 4,2 bilhões de anos. O cinturão
preserva algumas das formações de ferro desenvolvidas em ambientes análogos às
circulações hidrotermais de hoje. E nelas encontramos microfósseis que
acreditamos ser mais velhos do que os fósseis encontrados na Austrália, que têm
3,5 bilhões de anos e que até então era considerados os mais velhos
encontrados. Isso torna esses fósseis os mais velhos de que se tem notícia e
possivelmente a evidência mais antiga de vida na Terra.
ROCHAS CRIADAS A PARTIR DA CIRCULAÇÃO HIDROTERMAL NO FUNDO DO MAR (FOTO: REPRODUÇÃO/DOMINIC PAPINEAU) |
Para descobrir os fósseis, nós cortamos pedaços bem finos
das pedras, de forma que pudéssemos olhar através deles e estudá-los com um
microscópio. Ao fazer isso, encontramos filamentos microscópicos de ferro com
tamanhos entre cinco e dez mícrons de diâmetro, menos do que a metade da
largura de um fio de cabelo humanos, e quase meio milímetro de comprimento. Os
filamentos que vimos eram bem detalhados e compartilhavam semelhanças incríveis
com os fósseis de micróbios mais modernos e de pedras mais novas.
Algumas características desses filamentos antigos, como suas
ligações com o ferro, por exemplo, são parecidas com as encontradas em
micróbios modernos, que usam essas ligações para se prender em pedras. Esses
micróbios prendem o ferro que sai das circulações hidrotermais, e o usam em
reação para liberar energia química. Eles então usam essa energia para
transformar dióxido de carbono da água ao redor em matéria orgânica, permitindo
que ela cresça.
Como sabíamos que eram fósseis?
Quando encontramos as estruturas de fósseis, sabíamos que
elas eram interessantes e candidatas promissoras para microfósseis. Mas
precisávamos demonstrar que isso é o que realmente eram e que não eram um
fenômeno não biológico. Então, avaliamos todos os cenários que poderiam ter
formado os tubos e filamentos, incluindo os gradientes químicos ricos em ferro
e o crescimento metamórfico das pedras. Nenhum desses mecanismos se encaixava
nas observações que fizemos.
Nós então procuramos por traços químicos nas rochas que
poderiam ter sido deixados para trás por micro-organismos. Encontramos matéria
orgânica preservada como grafite de forma a sugerir que tinha sido formada por
micróbios. Também encontramos minerais chave que geralmente são produzidos pelo
declínio de material biológicos em sedimentos, como carbonato e apatita (que
contém fósforo). Esses minerais também apareciam em estruturas granuladas que
geralmente se formam em sedimentos em torno de organismos em decomposição e às
vezes preservam estruturas microfósseis dentro de si. Todas essas observações
independentes nos deram evidências fortes da origem biológica das
microestruturas.
FILAMENTOS LIGADOS NO FERRO (FOTO: REPRODUÇÃO/MATTHEW DODD) |
As evidências demonstram forte presença biológica nas rochas
que têm entre 3,7 bilhões e 4,2 bilhões de anos, aumentando a data dos
microfósseis mais velhos que conhecemos por 300 bilhões de anos. Colocar essa
linha do tempo em perspectiva, se voltássemos 300 milhões de anos no tempo, os
dinossauros nem teriam surgido ainda.
O fato de termos encontrados essas pequenas formas de vida
em depósitos de circulação hidrotermal que surgiram tão cedo na história da
Terra reforça a teoria de que a vida surgiu desse tipo de ambiente. O ambiente
no qual encontramos esses microfósseis antigos e suas semelhanças com fósseis
mais jovens e bactérias modernas sugerem que os metabolismos baseados em ferro
estão entre as primeiras formas nas quais a vida se sustentou sozinha na Terra.
Também vale lembrar que essa descoberta nos lembra que a
vida conseguiu se estabilizar e se desenvolver na Terra em um momento no qual
Marte tinha água líquida em sua superfície. Isso nos deixa com a possibilidade
empolgada de que, se as condições da superfície de Marte e Terra forem
parecidas, a vida também deve ter começado em Marte há 3,7 bilhões de anos. Ou
a Terra pode ter sido apenas uma exceção.
*Matthew Dodd é um pesquisador financiado pelo Conselho de
Pesquisa de Ciências de Física e Engenharia (EPSRC) da Inglaterra. Esta matéria
foi publicada originalmente em inglês no The Conversation.
Via Galileu
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