A química sexual do chocolate
Ele já foi o viagra dos Astecas, um dos primeiros
cultivadores de cacau. Mas existe mesmo uma relação entre o doce número um do
inverno e a sua libido?
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Voltando aos últimos dias do Império Asteca, no século 16, vemos que a associação do
chocolate com o desejo sexual começou bem antes que o primeiro motel fosse
erguido. Principal cronista do período, o espanhol Bernal Diaz del Castillo
afirma, em sua História Verdadeira da Conquista da Nova Espanha: “O que vi hoje
e com o que estive lutando, como boa testemunha ocular o descreverei, com a
ajuda de Deus, muito sinceramente, sem torcer nem para uma parte nem outra…” Era como se dissesse: podem confiar em mim, que não conto lorota. Mas um de
seus relatos mexeria com a fantasia dos espanhóis.
Segundo Castillo, o imperador Montezuma, antes de encarar
seu harém de 200 esposas, bebia 50 cálices seguidos do intrigante líquido de
cacau com especiarias – o chocolate teria sido um tipo de viagra asteca. Oviedo
y Valdés, outro historiador daquela época, confirma a associação entre o fruto
do cacaueiro e o sexo para o povo pré-colombiano. “É hábito entre os indígenas
da América Central esfregarem-se uns aos outros com polpa de cacau e depois se
mordiscarem.”
Começava ali, nos relatos daquela civilização fascinante, a
associação do chocolate ao sexo, que passou pela nobreza francesa da época dos
reis Luíses e perdura até hoje, como provam calcinhas e pênis comestíveis dos
sex shops e as altas de faturamento nas lojas de chocolate perto do Dia dos
Namorados.
Mas qual é a resposta da ciência para esse suposto efeito
afrodisíaco? O chocolate dá mesmo no couro?
A sensação de estar apaixonado – quando perdemos o apetite,
o sono e não conseguimos nos concentrar em mais nada – tem a ver com um
conjunto de compostos químicos que afetam o nosso cérebro: a norepinefrina, que
nos excita (e dá aquela acelerada nos batimentos cardíacos), a serotonina e a
dopamina (que entram com a sensação de bem-estar, aquela felicidade diante da
alma gêmea). E a ação desses neurotransmissores é controlada por um outro: a
feniletilamina. Ela tem um efeito tão poderoso sobre o cérebro que algumas
pessoas se tornam dependentes, e tendem a saltar de romance em romance, sem
muito critério, abandonando os parceiros assim que murcha o coquetel da paixão.
E adivinha qual é outro gatilho para esse dos neurotransmissores? O simples ato
de comer chocolate.
Parece que tudo se encaixa, então. E que Montezuma estava
certo ao investir no cacau para manter a empolgação ao longo de 200 bimbadas.
Mas aí vem outra explicação estraga-prazer. “A feniletilamina é rapidamente
degradada no sangue, de modo que, pela ingestão do chocolate, não haveria
possibilidade de atingir uma concentração elevada no cérebro”, explica Ribeiro.
A nutricionista Vanderli Marchiori vai na mesma opinião. “O
chocolate tem zinco, um mineral que atua nos hormônios sexuais, mas não é numa
quantidade representativa. Se você estiver num jantar romântico, com chocolate,
morango e champanhe, à luz de velas, a coisa muda de figura. Então o contexto é
que aumenta o desejo. A reação é mais cultural que científica.”
Tá certo, mas sejamos menos racionais nessa hora: quando se
trata de paixão e desejo, tanta ciência pode arruinar o clima. Chocolates finos
no Dia dos Namorados – ou, melhor, numa data sem qualquer motivo aparente, de
surpresa mesmo – continuam revirando olhinhos mundo afora. O velho clichê
continua ativo.
via superinteressante
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