DNA NÃO ESTÁ SOZINHO: PROTEÍNA TAMBÉM PODE PASSAR CARACTERÍSTICAS HEREDITÁRIAS
Um grupo de
cientistas da Universidade de Edimburgo (Escócia) acaba de revelar que não são
apenas os genes que transmitem atributos entre pais e filhos (como a cor dos
olhos, a textura do cabelo, se seu café é amargo como a vida ou calda de pudim,
e também se você vai aos protestos de vermelho ou canarinho). Segundo os
resultados, as proteínas chamadas histonas também são responsáveis por
transmitir características hereditárias. Após anos de estudos da epigenética,
que descreve como fatores externos interagem com os genes, este é, segundo os
autores, o primeiro a confirmar que o DNA não está sozinho e outras
características podem ser herdadas através desses fatores.
As histonas
são responsáveis por enrolar o DNA na forma de cromossomos. O DNA de uma célula
humana mede entre 1,5 e 3 metros,
dependendo de quem você perguntar. Mas tudo isso cabe – com espaço
sobrando – nos 6 micrômetros (µm) que um núcleo celular tem, em média, de
diâmetro. É como se você conseguisse fazer uma linha capaz de dar a volta ao
planeta, com 40 mil km, caber em uma bola de beisebol.
Algumas
histonas são capazes de silenciar genes quando enrolam esses novelos – que
precisam ser desenrolados para a síntese proteica, a forma como o DNA faz com
que você seja diferente de uma minhoca. O que o estudo escocês descobriu foi
que histonas modificadas – o que acontece naturalmente por fatores como
estresse e alimentação – podem ser passadas para descendentes. Eles testaram
isso com células de fermento, os fungos unicelulares usados para fazer pão e
cerveja.
Modificando as
histonas, os cientistas conseguiram criar características que foram
transferidas para novas gerações – sem que os genes tivessem nada a ver com
isso. “Mostramos, sem sombra de dúvida, que mudanças nos carretéis de histona
que fazem os cromossomos podem ser copiadas e passadas entre as gerações. Nossa
descoberta confirma a ideia que características herdadas podem ser epigenéticas,
o que quer dizer que não dependem apenas de mudanças no DNA de um gene”, afirma
o professor Robin Allshire, que conduziu o estudo.
Ainda que as
histonas não contenham informações genéticas por si mesmas, ao silenciar genes,
elas podem, em tese, fazer coisas como alguém que devesse ter olhos castanhos
acabar com exóticas janelinhas de Escrava Anastácia. Mais estranho ainda, isso
pode surgir de hábitos de vida dos pais. Por ora, isso é só especulação. A
pesquisa dá força a uma ideia de impacto imenso, de que o “código da histona” e
outras formas de epignética podem ser todo o lado B do genoma.
Por Fábio Marton
via super
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