Associação ambiental afirma que, em três anos, fábrica na
Grande Belo Horizonte afetou vazão de nascentes e lençóis freáticos. Empresa
nega irregularidades, e Ministério Público diz que estudos são
"insuficientes".
Secou tudo, olha só. Que tristeza", lamenta Sebastião
Gomes de Laia enquanto caminha pelo lamaçal coberto de capim às margens da
rodovia BR-040, em Minas Gerais. "Tudo o que você está vendo aqui era
água, onde o pessoal pescava traíra", recorda o pintor de 65 anos, um dos
primeiros a ocupar os terrenos do bairro Água Limpa, perto de Itabirito, na
região metropolitana de Belo Horizonte.
Laia chegou ali, na encosta da Serra da Moeda, em 2008. Sete
anos depois, em 2015, foi inaugurado o projeto de um novo empreendimento em
Itabirito: a Fábrica da Coca-Cola FEMSA, aclamada pelo então governador,
Antonio Anastasia (PSDB), como unidade geradora de renda e empregos para a
região.
No entanto, com a inauguração da fábrica, a água da região
parece ter começado a sumir. Os moradores, que antes a carregavam em vasilhames
dos mananciais, começaram a improvisar bombas d'água – já que, ainda à espera
de regularização, o bairro não conta com sistema de esgoto, abastecimento de
água nem fornecimento de energia formalizados.
A Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA) afirma que
os poços artesanais implantados pela concessionária de abastecimento de
Itabirito para a unidade da Coca-Cola (apelidada de "Fábrica da
Felicidade") estão secando nascentes dos rios Paraopeba e das Velhas –
responsáveis por quase toda a água de Belo Horizonte. Os poços também estariam
colocando em xeque o rico ecossistema do monumento natural da Serra da Moeda.
"Há uma redução significativa na vazão das nascentes em
toda a região", explica Francisco Mourão, biólogo da AMDA. Ele diz que,
desde que a fábrica começou as atividades, várias comunidades, principalmente
do lado de Brumadinho e de Moeda, tiveram seus lençóis freáticos rebaixados. Há
locais que inclusive são abastecidos por caminhões-pipa, e "alguns [dos
caminhões] são enviados pela própria Coca-Cola", diz Mourão.
"Estudos inconclusivos"
De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Semad), a outorga para o uso da água na região foi
concedida antes da instalação da Coca-Cola FEMSA. O empreendimento foi liberado
desde que fosse feita uma pesquisa pela empresa, de duração de dois anos, com
acompanhamento do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), da Semad e da
Universidade de São Paulo (USP). As análises deverão ser entregues em agosto.
Via | G1
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