Primeiros estudos sobre a atmosfera das três Novas Terras
não são animadores. Mas calma: ainda há esperança de encontrarmos vida por lá
A principal notícia da astronomia do mês passado foi o
anúncio da Nasa de que encontramos um novo Sistema Solar, com sete planetas.
Três deles estavam até na Zona Habitável, região em que a temperatura
permitiria a existência de água líquida na superfície.
Maravilha: a Nasa até se empolgou e divulgou pôsteres
“turísticos” para quem sonha em passear por uma das três candidatas à Nova
Terra. Mas aí veio o lembrete de que a ciência caminha em passos pequenos.
Ainda não conseguimos examinar a atmosfera desses planetas,
mas as pistas que temos vêm dos estudos sobre a radiação emitida por
Trappist-1, a estrela que dá nome ao sistema a 39 anos-luz do nosso.
Este Outro Sol é uma anã ultrafria, bem menor que o nosso
astro – até por isso, os planetas podem ficar mais perto dela sem esquentar
demais. Porém, como toda estrela, ela emite muita radiação. E essa radiação vai
agredindo a atmosfera dos planetas. Aqui no Sistema Solar, foi isso que
aconteceu com Marte. Os ventos solares “furaram o pneu” da atmosfera marciana,
varrendo os gases para longe.
Mas o que isso tem a ver com a possibilidade de vida?
Primeiro, porque precisamos de uma concentração de gases estufa ao redor de um
planeta para que ele tenha temperatura estável. Segundo, porque é muito difícil
existir água líquida sem pressão atmosférica. Em Marte, por exemplo, a água
evapora a meros 10ºC.
O que os estudos publicados calcularam é que a radiação de
Trappist-1 pode fazer os planetas perderem água equivalente a 15 oceanos
terrestres. Os dois planetas mais próximos da estrela teriam sua atmosfera
aniquilada de 1 a 3 bilhões de anos. Os outros levariam um pouco mais de tempo:
entre 5 e 22 bilhões de anos.
Se a radiação da estrela já acabou com a atmosfera, de nada
adianta os planetas estarem na Zona Habitável nem serem rochosos como a Terra.
O que não sabemos é se esses bilhões de anos já se passaram, antes mesmo de
encontrarmos o Sistema, ou se ainda estão por vir.
Há motivos para ter esperança, porque existem indícios de
que a destruição da atmosfera ainda não chegou na metade. Isso porque o Sol de
lá parece ser bem mais jovem do que a gente imaginava.
Cientistas compararam dois tipos de radiação emitidos por
Trappist-1: raios-x e um tipo de luz ultravioleta chamada radiação Lyman-alpha.
Eles compararam a quantidade de radiação à emitida por Proxima Centauri, uma
estrela bem mais próxima da Terra, que tem 4,65 bilhões de anos de idade – e
perceberam que a Trappist emitia só metade de ultravioleta, por ser uma estrela
bem mais fria. Por outro lado, emitia quase a mesma quantidade de raios-x.
Quanto mais velha é uma estrela, menos dessas radiações ela
emite, mas a munição de raios-x acaba bem mais rápido. Baseados nessa
informação, os pesquisadores fizeram uma estimativa da idade da estrela de
Trappist-1, que ficou por volta de 500 milhões de anos.
O cálculo ainda não pode ser considerado preciso, por conta
da pouca informação que temos sobre o sistema. Mas se estiver correto,
significa que boa parte da atmosfera dos planetas ainda resiste, firme e forte
à radiação, e tem mais de meio bilhão de anos pela frente. Nesse período, dá
para existir água líquida e, quem sabe, vida. Os planetas de Trappist-1
continuam na corrida pelo título de Nova Terra.
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