Pesquisadores belgas descobrem proteína capaz de prevenir obesidade e diabete
Caso a segunda fase de testes dê certo, em cinco ou seis
anos poderá ser desenvolvido um produto terapêutico para ambas as doenças.
A bactéria Akkermansia muciniphila. Proteína faz parte da
membrana externa da bactéria. (Foto: Laura Huskonen & Willem M de Vos)
Pesquisadores da Universidade Católica de Lovaina (UCL), na Bélgica, descobriram uma proteína capaz de prevenir o desenvolvimento da obesidade e da diabete tipo 2 em ratos.
A descoberta foi publicada nesta segunda-feira na revista
especializada Nature e abre caminho para o desenvolvimento de um medicamento
contra as duas doenças que afetam, respectivamente, 600 milhões e 400 milhões
de pessoas em todo o mundo.
Batizada de Amuc_1100, a proteína faz parte da membrana
externa da bactéria Akkermansia muciniphila, que vive exclusivamente na flora
intestinal de animais vertebrados, como o homem.
A equipe liderada pelo professor Patrice Cani descobriu que,
administrada em grande quantidade, essa proteína bloqueia completamente o
desenvolvimento de intolerância a glicose e de resistência a insulina, tanto em
um regime normal como em um regime rico em gordura.
Ela atua como uma espécie de barreira protetora, diminuindo
a permeabilidade do intestino e impedindo que toxinas presentes na massa fecal
entrem na corrente sanguínea.
"A permeabilidade intestinal é responsável pela
passagem ao sangue de determinadas toxinas que contribuem para o
desenvolvimento da diabete, de inflamações, para o fato de que algumas pessoas
obesas sintam fome constantemente e para várias desordens metabólicas",
explicou Cani em entrevista à BBC Brasil.
Essa barreira também reduz a absorção de energia pelo intestino,
resultando em menor ganho de
massa corporal.
Acaso
Foi por acaso que Hubert Plovier, doutorando da equipe de
Cani, descobriu a proteína Amuc_1100.
A bactéria Akkermansia muciniphila é conhecida por sua
capacidade de reduzir em entre 40 e 50% o ganho de massa corporal e de
resistência a insulina em ratos, comprovada em 2013 também por Cani.
Mas o teste em humanos esbarrava na dificuldade de
reproduzir sinteticamente a bactéria, sensível ao oxigênio.
Para resolver o problema, Plovier optou pela pasteurização,
um processo no qual uma substância é aquecida a 70 graus.
"Descobrimos não só que a bactéria produzida dessa
maneira conserva suas propriedades, mas também que dobra em eficácia, detendo
totalmente o desenvolvimento da obesidade e da diabete tipo 2, independente do
regime alimentar", afirma Cani.
Ao investigar as razões do ganho em eficácia, os
pesquisadores observaram a presença da proteína Amuc_1100 ainda ativa na
bactéria pasteurizada.
"Quer dizer, a pasteurização elimina o que é
desnecessário na bactéria e preserva a proteína, o que explica essa eficácia
multiplicada."
A equipe testou os efeitos da proteína isolada em três
séries de testes com ratos e obteve, em todas elas, os mesmos resultados do
tratamento com a bactéria Akkermansia muciniphila pasteurizada.
Submetidos a um regime rico em gordura e altamente calórico,
os animais que receberam a bactéria viva ganharam menos peso e desenvolveram
menos resistência à insulina que os que receberam um placebo.
No caso dos que receberam a bactéria pasteurizada ou a
proteína isolada, o tratamento deteve totalmente o ganho de peso e a
resistência à insulina.
Futuro remédio
O tratamento com Akkermansia muciniphila pasteurizada já foi
submetido a uma primeira fase de testes em humanos e a conclusão é que sua
administração não apresenta riscos para a saúde.
A prova foi realizada com quatro grupos de dez voluntários,
em alguns casos durante 15 dias, em outros durante três meses, seguindo os
procedimentos habituais para esse tipo de pesquisas.
Um grupo recebeu uma dose diária de um bilhão de bactérias
vivas, outro 10 mil bactérias vivas, o terceiro um bilhão de bactérias
pasteurizadas e o último um placebo.
Segundo Cani, nenhum dos voluntários apresentou qualquer
problema.
A segunda fase de testes em humanos, para determinar os
efeitos clínicos da bactéria sobre a obesidade e a diabete, deve ser concluída
no segundo semestre de 2017 e contar com mais de 100
voluntários.
Se os resultados forem positivos, será o primeiro passo para
o desenvolvimento de um futuro produto terapêutico contra ambas doenças, que
poderia chegar ao mercado em um prazo de cinco ou seis anos.
Já para o desenvolvimento de um remédio, os pesquisadores
ressaltam que ainda é necessário testar o uso da proteína isolada em humanos e
descobrir uma maneira de produzi-la em grande escala.
O processo todo poderia demorar pelo menos dez anos.
Cani pretende também comprovar os efeitos da Akkermansia
muciniphila sobre outras doenças relacionadas, como alto nível de colesterol,
arteriosclerose, inflamação intestinal e mesmo câncer.
via G1
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