21 animais que parecem fofos mas têm comportamentos assustadores

ILUSTRAS Renato Faccini


Na hora de garantir a alimentação, a reprodução ou a perpetuação da espécie, animais aparentemente fofos ou inofensivos soltam suas feras – com comportamentos assustadores, que, na sociedade humana, seriam dignos de um psicopata.

Apesar de chocantes, a maior parte desses comportamentos tem justificativas naturais. São motivados não pela “maldade”, mas pelo instinto de sobrevivência, amparado em resultados bem-sucedidos ao longo da evolução da espécie. “Muitos dos comportamentos descritos nada mais são do que estratégias milenares para sobrevivência e reprodução”, explica Luís Fábio Silveira, curador do Museu de Zoologia do Estado de São Paulo.

1) Você não é meu filho!

ANIMAL Panda-gigante (Ailuropoda melanoleuca)

Caso a fêmea dê cria a gêmeos, ela escolhe só um deles para cuidar. O outro é abandonado, sem remorso, na floresta, para se virar sozinho ou morrer. Em zoológicos, esse comportamento é mais raro, mas fica ainda mais trágico: a decisão pode levar um mês e a mãe impede até mesmo que os tratadores se aproximem do filhote desprezado.


2) Sequestro e estupro

ANIMAL Lontra-marinha (Enhydra lutris)

Para obter alimentos no inverno, os machos raptam filhotes da própria espécie e só os libertam em troca de toda a comida caçada pelas mães. Outro hábito cruel é estuprar bebês focas como forma de exercício sexual. As lontras chegam a matar a vítima afogada e continuam o abuso por até uma semana, com o corpo já em decomposição.

3) Taradão da Antártida

ANIMAL Pinguim-de-adélia (Pygoscelis adeliae)

Sabe por que essas aves são sempre mostradas de um jeito fofinho nos desenhos animados? Porque pegaria mal se os personagens começassem a agir como na vida real, abusando sexualmente dos filhotes ou de cadáveres! Esses comportamentos nada gentis foram registrados pelo naturalista britânico George Levick entre 1910 e 1913, na Antártida.


4) Bullying entre irmãos

ANIMAL Garça-branca (Casmerodius albus)

A ave é propensa ao fratricídio – ou seja, ela mata o irmão ou irmã. Quando são fecundados três embriões, os dois primeiros recebem uma carga elevada de hormônios, mas o terceiro não consegue se desenvolver muito. Ao nascer, o fracote servirá de “brinquedinho” para os irmãos mais fortes – e depois ainda será chutado do ninho!Na zoologia, a aniquilação direta dos mais novos pelos primogênitos é chamada de cainismo – referência a Caim, da Bíblia.

5) Carinho traiçoeiro

ANIMAL Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)

Sabe como esse bicho aparentemente pacato encara um predador? Com um belo abraço. Mas isso não tem nada de legal. Quando acuado por onças e lobos, ele se ergue nas patas traseiras e abre as dianteiras. Se o atacante avançar, o tamanduá envolve o rival e crava as garras de 10 cm nas costas dele.


6) Um estranho no ninho

ANIMAL Cuco (família Cuculidae)

As fêmeas de cuco-canoro e cuco-manchado usam sua semelhança com aves de rapina para espantar pardais e canários que estão chocando ovos. Quando a vítima está longe do ninho, o cuco come um dos ovos e o substitui com um dos seus, que é criado pelos pais adotivos. Pior ainda: depois de nascer, o cuco ainda mata seus “irmãos”!

7) Amigo da onça

ANIMAL Babuíno-anúbis (Papio anubis)

Quando há fartura na savana, ele finge ser um herbívoro pacífico para conquistar a confiança das gazelas. Em tempos de seca, sua verdadeira faceta se revela: infiltrado no meio do bando, ele caminha sorrateiramente até um filhote desgarrado e, sem que ninguém perceba, o executa rapidamente antes que os berros o denunciem.


8) O terror dos oceanos

ANIMAL Golfinho-roaz (Tursiops truncatus)

Quando alguém disser que o homem é o único animal que mata por diversão, fique livre para corrigir a informação: essa espécie também curte uma “violência gratuita”. Quando são rejeitados pelas fêmeas, os jovens machos se reúnem em gangues e monitoram áreas litorâneas em busca de cetáceos menores, como toninhas e botos, que eles matam a mordidas e pancadas. (Entre 2005 e 2014, na baía de Monterey, na Califórnia, foram encontradas mais de 40 carcaças de toninhas vitimadas por golfinhos-roazes).

Se a fêmea topa as investidas do macho, o perigo surge entre 12 e 17 meses depois, após a gestação. Os filhotes podem ser assassinados por um macho rival, interessado em acasalar com as parideiras do grupo. (Aliás, golfinhos-roazes são tão ativos sexualmente que também há vários registros de casos de masturbação com “brinquedinhos sexuais”, como ossos e gravetos).

E se não há fêmeas por perto? Sem problema: os golfinhos estupram coletivamente outros machos. Um grupo pequeno persegue uma vítima distraída que tenha subido até a superfície para respirar e, depois de dominá-la, faz revezamento na penetração. Geralmente os alvos fáceis são integrantes do grupo doentes, jovens ou velhos demais para se defender.

9) Mãe megera

ANIMAL Hamster (Mesocricetus auratus)

Em cativeiro, a fêmea sempre dá à luz muitos filhotes. Mas, se nos primeiros dias, identifica algum tipo de anomalia física ou doença neles, ela os rói vivos com seus dentes incisivos! Ela também age assim quando há falta de comida e espaço na gaiola, se quer se sentir dominante ou se precisa chamar a atenção do tratador.


10) Antes eles do que eu

ANIMAL Lebre (família Leporidae)

No coração dessa mãe, só cabe ela mesma. Ela abandona os filhotes durante todo o primeiro mês de vida, visitando-os na toca apenas uma vez por dia, por cerca de dois minutos, para trazer comida. Isso porque o local é muito visado por predadores, então ela evita ficar por perto. Se algum rival chegar, quem se dana é a ninhada!

11) O melhor naquilo que faz

ANIMAL Carcaju (Gulo gulo)

Não é à toa que inspirou o violento herói Wolverine, dos X-Men. Semelhante a um urso de cauda longa, o carcaju também mata por prazer. Também chamado de glutão, ele é oportunista: consegue destravar armadilhas humanas para pegar presas mutiladas e, sozinho, enfrenta matilhas de lobos e linces para roubar o alimento deles. O carcaju é uma das poucas espécies selvagens de mamífero que jamais podem ser domadas, mesmo nascido em cativeiro.


12) Distração hipnótica

ANIMAL Doninha (Mustela nivalis)

Se você visse uma doninha interagindo com uma lebre, certamente acharia fofo. Esse animal fica se movimentando rapidamente de um lado para o outro na frente da “amiga”. Também dá vários saltinhos e agita a cauda em movimentos que parecem hipnotizantes. Mas tudo não passa de um golpe baixo…

Quando a lebre menos espera, a doninha se enrola ao redor dela e começa a esmagá-la sem dó! Na verdade, a predadora estava distraindo sua vítima com a dança fatal, na qual testa possibilidades de ataque. Outro truque da doninha é emitir sons similares a assobios e gorjeios, para atrair certos tipos de pássaros e então tomar seu ninho.

Para piorar, o bicho costuma matar quase toda presa que encontra, para armazenar alimentos (e esfolar a pele, usando-a para forrar sua toca). O problema é que ela prefere comida fresca, então raramente retorna ao “estoque” – ou seja, mata sem necessidade. Não é à toa que é considerada uma praga nas zonas rurais da Europa.


13) Sangue, suor e lágrimas

ANIMAL Borboleta (ordem Lepidoptera)

Até as simpáticas borboletas têm seu lado negro. Para dar nutrientes de presente às suas parceiras, os machos da espécie madrilenial chupam o sangue de outros animais. Fica ainda mais nojento: eles não picam a pele, como os mosquitos, e sim preferem “lamber” a carne fresca de animais recém-abatidos. Eles também formam colônias no interior de carcaças.

Não bastasse ser venenosa, a Chrysiridia rhipheus, de Madagascar, voa em busca de pássaros empoleirados para inserir suas trombas farpadas nas pálpebras fechadas e sugar as lágrimas deles! O líquido é rico em sódio, componente importante para sua reprodução, que também pode ser obtido facilmente da urina, do esterco e até do suor humano.


14) A crueldade da vida em cativeiro

ANIMAL Galinha (Gallus gallus domesticus)

Não é só você que fica tenso no trabalho. Sob o estresse das granjas, as penosas podem agredir as companheiras gratuitamente, com bicadas, e até partir para o canibalismo, atraídas pelo sangue de mucosas expostas. Outras chegam a comer os próprios pintinhos, se perceberem que vão para o abate ou que as crias serão roubada. Também há galinhas que praticam automutilação. Por isso, muitas têm o bico cortado.

15) Quem manda aqui sou eu

ANIMAL Chimpanzé-pigmeu (Pan paniscus)

Diga aí se esta cena não traumatizaria qualquer mãe: um macho despedaçando os próprios filhos e os devorando, bem diante da fêmea. Segundo a Sociedade Americana de Primatologistas, como os chimpanzés vivem em um sistema de matriarcado, a melhor maneira de o macho se impor é ameaçar o futuro do bando inteiro. De vez em quando, as fêmeas também cometem infanticídio, para desafiar as rivais do clã.


16) Parente é serpente

ANIMAL Coala (Phascolarctos cinereus)

No século 19, os colonizadores europeus confundiram a espécie com um urso, por causa de sua inibição e seus urros. De fato, coalas não gostam da aproximação de ninguém. Nem mesmo de familiares! As mães, por exemplo, expulsam os próprios filhotes das árvores, com chutes e mordidas, assim que eles completam 1 ano.

17) Jogos vorazes

ANIMAL Javali (Sus scrofa)

Esqueça o Pumba, de O Rei Leão. Desde a infância, javalis são cascas-grossas: filhotes já nascem com dentes (incluindo quatro caninos) que eles usam para morder as tetas da própria mãe quando querem leite. A fome selvagem só aumenta: quando adultos, em tempos de escassez, eles comem até cadáveres de outros membros de seu grupo. Podem causar grande prejuízo à agropecuária: são capazes de devorar plantações inteiras e animais como cabritos e galinhas.

E, muitas vezes, eles mesmos dão um jeitinho para que os colegas morram. Em vez de expulsar jovens rivais do bando, os machos mais velhos os elegem como “escudeiros”, colocando-os na dianteira da alcateia. Se alguma coisa der errada, olha que prático: eles se salvam e ainda eliminam a concorrência sem sujar as mãos.


18) Ataque sem piedade

ANIMAL Ariranha (Pteronura brasiliensis)

Também é chamada de “lobo-de-rio” por caçar em matilhas. Suas táticas não devem nada aos mais cruéis estrategistas de guerra. Diante de uma presa difícil, como a piranha, por exemplo, a ariranha procura mutilar suas nadadeiras, para evitar fugas e ataques, e a entrega aos filhotes para que seja disputada como um troféu.

O grupo consegue enfrentar até animais maiores, como panteras. Se um jacaré-americano der sopa tomando sol no seco, as ariranhas se revezam aproximando-se por trás e beliscando sua cauda incessantemente, até deixá-lo confuso e exausto. É a deixa para o bando sair da água, imobilizar a presa e comê-lo vivo! Em 45 minutos, elas papam tudo – até os ossos.

Para outra vítima, a sucuri, ariranhas com o instinto de caça aguçado empregam uma técnica descrita por biólogos como “cabo de guerra”. É isso mesmo: elas esticam a cobra até os órgãos internos se romperem. Outra opção é tentar esmagá-la contra pedras ou troncos de árvores duras.

19) Na base da porrada

ANIMAL Girafa-sul-africana (Giraffa camelopardalis)

Tem a patada mais forte do reino animal. E os filhotes sabem bem: depois de nascer, recebem muitos pontapés da mamãe para aprenderem, a duras penas, a ficar de pé. Às vezes, sobra para nós: em 2013, um macho teve um ataque de fúria, perseguiu um jipe de turistas na África do Sul e deu uma saraivada de coices


20) Fica na tua, mermão!

ANIMAL Cisne-branco (Cygnus olor)

O macho é muito territorialista, a ponto de “rosnar” para invasores e até virar barcos (em 2012, um tratador de animais dos EUA morreu afogado após um cisne tombar seu caiaque e impedi-lo de nadar até a margem). A fêmea se aproveita do parentesco com as gansas para botar ovos no ninho delas, “terceirizando” a criação dos filhos.

21) Um prato que se come frio

ANIMAL Búfalo-africano (Syncerus caffer)´

Os búfalos estão entre os cinco mamíferos mais agressivos da África – estima-se que eles matem mais de 200 pessoas todos os anos. Mas o mais curioso é que esses bichos são vingativos: há evidências de que eles são capazes de reconhecer antigos predadores e de, à noite, invadir o território deles para pisoteá-los enquanto dormem


FONTES Sites O Estado de S. Paulo, BBC, G1, R7 e Vitrine-Eco, Ibama, Fundação Parque Zoológico de São Paulo, revista NATIONAL GEOGRAPHIC, livros Tratado de Animais Selvagens, de Jean Carlos Ramos Silva, José Luiz Catão-Dias e Zalmir Silvino Cubas, Coleção Mil Bichos, da Editora Abril, e programas de TV Planeta Terra e Animal Planet


CONSULTORIA Luís Fábio Silveira, professor e curador do Museu de Zoologia do Estado de São Paulo, Tiago Calil, biólogo, Thiago Sá, biólogo, Luiz Lisboa, biólogo, e Ticianna Santana, veterinária (Cobasi)

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