Algumas das espécies mais arrepiantes do planeta são
especialistas em conseguir o que querem. Conheça dez delas:
'Ophiocordyceps unilateralis' (ou 'fungo da formiga zumbi')
Formigas são seres com grande capacidade de orientação,
criando caminhos eficientes quando buscam alimentos. Mas nas florestas do
Brasil, da Tailândia e da África, as espécies do gênero Camponotus perdem seu
rastro por causa do fungo parasita Ophiocordyceps unilateralis.
Quando um esporo desse fungo contamina uma formiga, ele
passa de três a nove dias se desenvolvendo dentro dela. Quando pronto para
completar seu ciclo de vida, o fungo manipula o inseto até ele se afastar da
segurança de seu grupo, sem enxergar direito por onde vai, vagando como um
zumbi.
Um estudo feito em 2009 revelou que, nesses casos, as
formigas sempre acabam em lugares semelhantes: em alguma árvore, a cerca de 25
centímetros do solo, em um local com a umidade perfeita para que o fungo se
prolifere.
A formiga morde uma folha e morre. Menos de 24 horas depois,
minúsculas hifas de fungo crescem para fora do cadáver. Por fim, um talo é
expelido e começa a jogar esporos no solo, onde novas formigas serão
contaminadas.
'Paragordius tricuspidatus' (ou 'verme kamikaze')
Um verme como este pode atingir até 15 centímetros de
comprimento e se parecer com um espaguete cozido. Mas para chegar a esse ponto,
ele precisa de um gafanhoto ou de um grilo para ajudá-lo.
Primeiro, uma minúscula larva precisa ser ingerida pela
larva de outro inseto, como um mosquito. Este, em seguida, servirá de alimento
para o gafanhoto (ou o grilo). E é nele verme começa a se desenvolver.
A última etapa do desenvolvimento do parasita ocorre na
água. Normalmente, gafanhotos não ficam perto da água, mas ao alterar funções
do sistema nervoso central do inseto, o verme o compele a saltar sem pensar em
qualquer porção de água próxima.
O gafanhoto se afoga, permitindo que o verme surja e se
reproduza.
'Sacculina' (ou 'craca castradora')
Já é impressionante fazer um gafanhoto acreditar que pode
nadar, mas esse crustáceo parasita é capaz de uma façanha ainda mais
inacreditável.
A Sacculina entra no corpo de um caranguejo através das
fendas em suas garras. O crustáceo se desfaz de sua casca e se espreme até
conseguir penetrar no organismo hospedeiro.
Ao se instalar, ele passa a se alimentar dos nutrientes do
caranguejo e faz dele o veículo que o permitirá se reproduzir. Uma vez
desenvolvido em adulto, o crustáceo se parece com uma gema de ovo mole e
pulsante.
Se o hospedeiro é uma fêmea, a Sacculina a obriga a cuidar
de seus milhões de larvas como se fossem seus próprios filhotes. Mas se for um
macho, o parasita o torna “feminino”: ele perde sua capacidade fértil e seu
abdômen cresce para poder abrigar os filhotes de crustáceos. Suas gônadas
encolhem e ele para de desenvolver garras.
'Leucochloridium paradoxum' (ou 'verme listrado de verde')
Se você avistar um caracol verde listrado e salpicado com
manchas cinzentas, atenção. Não se trata de um molusco fantasiado, mas sim de
um animal contaminado por um parasita.
O Leucochloridium paradoxum consegue penetrar através das
antenas do caracol, tornando-os mais coloridos e suculentos – exatamente o tipo
de comida que passarinhos buscam.
O verme consegue manipular também o comportamento do
molusco. Um estudo realizado há dois anos na Universidade de Wroclaw, na
Polônia, demonstrou que o caracol contaminado se coloca em lugares mais
expostos e bem iluminados, acima da vegetação, facilitando que sejam presas de
aves.
Uma vez no organismo de uma ave, o parasita consegue se
reproduzir e continuar seu ciclo de vida.
'Dinocampus coccinellae' (ou 'parasita da joaninha')
Esse parasita precisa de um hospedeiro que proteja seus ovos
de potenciais predadores. E quem pode ser melhor do que um inseto com manchas
que sinalizam perigo?
As joaninhas podem parecer fofas e indefesas, mas elas sabem
se cuidar. Quando em estresse, elas soltam um veneno repugnante e seu corpo
vermelho afasta os predadores. Mas elas não oferecem resistência a esse
parasita, que com uma única picada consegue inocular seu ovo.
Quando a larva nasce, ela se alimenta dos tecidos internos
da joaninha até sair por seu abdômen e expelir um casulo por entre as pernas do
inseto. A joaninha agora serve como “guarda-costas” e fará de tudo para
proteger o casulo de predadores.
'Ampulex compressa' (ou 'vespa-esmeralda')
A vespa-esmeralda tem um corpo metálico que brilha nas cores
verde e roxo. Encontrada nas regiões tropicais da Ásia, da África e das ilhas
do Pacífico, trata-se de um lindo inseto – mas coitada da barata que cruzar seu
caminho.
A vespa tem cerca de 16% do tamanho da barata, mas isso não
a impede de atacar. Primeiro, ela dá uma picada paralisante. Depois,
“sequestra” a mente da barata, injetando um elixir de neurotransmissores em seu
cérebro. Isso torna o hospedeiro uma espécie de zumbi.
Depois de recarregar as energias com o sangue da barata, a
vespa engole suas antenas e a leva para seu ninho. Ali, ela deposita seus ovos
no abdômen da barata, que nem tenta fugir.
A barata se limita a ficar ali, submissa, enquanto é comida
viva pela larva da vespa. Quando chegam à fase adulta, as vespas saem pelos
restos mortais da barata.
'Toxoplasma gondii'
Esse organismo unicelular é talvez o mais famoso dos
parasitas manipuladores de hospedeiros. Ele contamina principalmente ratos e
ratazanas com o objetivo de ser ingerido por gatos e poder se reproduzir.
Segundo um estudo de 2007, os roedores infectados perdem o
medo do odor de gatos e passam até a serem atraídos a um feromônio presente na
urina dos felinos. Com isso, os ratos se expõem mais e têm mais chances de
serem capturados.
Cerca de 30% a 60% das pessoas estão infectadas pela
Toxoplasma gondii. Mas ainda não se sabe se o parasita afeta o comportamento
humano. Em 2006, Kevin Lafferty, do Centro de Pesquisa Geológica de Santa
Bárbara, nos Estados Unidos, encontrou evidências de mudanças de personalidade
em indivíduos contaminados, mas o estudo não foi conclusivo.
A toxoplasmose é também impressionantemente comum em pessoas
que sofrem de esquizofrenia, mas ainda não está claro o que isso pode
significar. “A esquizofrenia é uma síndrome complexa, possivelmente com
múltiplas causas”, diz Lafferty, lembrando que há inúmeros casos em que um
indivíduo tem um dos problemas, mas não apresenta o outro. “É seguro dizer que
o Toxoplasma gondii é um fator de risco para a esquizofrenia.”
Vírus da raiva
O vírus da raiva pode não ser oficialmente um parasita, mas
para o biólogo Levi Morran, da Universidade Emory de Atlanta, é exatamente
assim que ele se comporta. “Esse vírus, assim como o da gripe, piora a forma
física de seu hospedeiro e se aproveita dele”, explica.
O vírus da raiva é um dos mais assustadores que existem
porque consegue transitar entre seres humanos e animais.
Ele é transmitido através da saliva, em geral depois de um
arranhão ou uma picada. Isso faz com que os animais – normalmente cães e
morcegos, ocasionalmente humanos – se tornem mais agressivos, levando-os a
tentar espalhar o vírus.
“A raiva se manifesta em uma ampla gama de sinais
neurológicos, incluindo mudanças de comportamento e perda de controle motor”,
afirma o parasitólogo Andrés Gomez, da IFC International, em Washington. “Isso
pode incluir dificuldades em engolir, o que pode levar à fome, hipoglicemia e
desidratação.”
Vírus da gripe
Em 2010, Chris Reiber, da Universidade Binghamton, em Nova
York, e seus colegas encontraram provas de que o vírus da gripe torna as
pessoas mais sociáveis.
Eles descobriram que indivíduos que receberam a vacina da
gripe interagiam mais com outros e em grupos maiores nas primeiras 48 horas, em
relação às 48 horas anteriores. Os hospedeiros contaminados tinham mais
probabilidades de ir para bares ou festas.
Apesar de se tratar de um único estudo pequeno, há um certo
sentido na teoria. Para o vírus é uma vantagem ser transmitido para o maior
número de pessoas possível antes que os sintomas se instalem e a vítima fique
de cama.
'Schistocephalus solidus'
Os parasitas estão em toda parte. A maioria das espécies
existentes na Terra abrigará mais de um parasita em determinado momento de suas
vidas. E até mesmo os parasitas têm seus parasitas.
Com isso, em alguns casos, um hospedeiro pode estar
carregando vermes com diferentes interesses e que precisam lutar entre si para
assumir o controle do organismo.
Para assistir a essa batalha, pesquisadores do Instituto de
Biologia Evolutiva Max Planck, na Alemanha, contaminaram um pequeno crustáceo
com vários vermes cujo objetivo final é chegar ao organismo de uma certa
espécie de peixe, para ali se reproduzir.
Os parasitas costumam modificar o comportamento do
crustáceo, tornando-o mais ativo e mais vulnerável a ser capturado. Se dois
vermes estiverem prontos para passar para o organismo do peixe, eles trabalham
em conjunto. Mas se um dos parasitas for mais velho, ele passa a dominar o
hospedeiro.
VIA | BBC BRASIL
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