De acordo com especialistas, há uma correlação na incidência
da doença e no perfil socioeconômico dos pacientes
Uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP)
mostra que a má higiene oral está diretamente ligada com uma maior
probabilidade de desenvolver câncer de pescoço, boca e cabeça. De acordo com
estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), entre 2018 e 2019 o Brasil
registrará em média 14,7 mil novos casos de câncer em cavidade oral por ano —
somando os casos de esôfago e laringe, o número chegará a mais de 33 mil casos
anuais.
De acordo com Nayara Fernanda Pereira, uma das responsáveis
pela pesquisa, os dados indicam a desregulação na microbiota e as inflamações
na boca contribuem para o desenvolvimento do câncer. "Também foi observado
que pessoas com má higiene oral têm maior formação de nitrosamina endógena —
conhecido carcinógeno. Assim, esse conjunto de fatores podem estar ligados
entre si, colaborando com o complexo mecanismo do câncer", disse a
profissional em entrevista à GALILEU.
Outra hipótese é que uma bactéria específica ou um conjunto
delas possam ter a capacidade de prejudicar a imunidade, estimulando o ambiente
favorável ao crescimento excessivo de bactérias. Segundo Pereira, isso poderia
criar um ambiente propício para a iniciação e propagação da doença.
Os pesquisadores utilizaram o banco de dados do projeto
Gencapo (Genoma dos Cânceres de Cabeça e Pescoço) e estudaram quase mil casos
para chegar aos resultados. "Comparando os grupos, conseguimos ver que os
pacientes com câncer tinham mais dentes perdidos, relatavam mais sangramento
gengival, além de terem menor frequência de escovação e idas ao dentista",
resume Pereira.
Além disso, a especialista conta que existe uma relação
entre a incidência desses tipos da doença e o perfil socioeconômico dos
pacientes: por ter menos acesso à informação, a parcela mais pobre da população
é mais atingida.
"Embora nos últimos anos tenhamos visto um número
crescente de pacientes que não se enquadram no perfil clássico dos cânceres de
cabeça e pescoço, a desigualdade social é muito presente", destaca.
"Há trabalhos mostrando a diferença gritante no prognóstico e nas chances
de cura nas camadas como menos acesso dentro de uma mesma cidade."
Atenção
Dentre os sintomas dos cânceres de boca, pescoço e cabeça
estão úlceras (aftas) que não cicatrizam em duas semanas — elas também podem
indicar infecções, diabetes e uso de corticoides. Por isso, é importante que o
paciente procure o médico ou cirurgião-dentista para fazer o diagnóstico. Além
disso, nódulos na região do pescoço devem ser investigados.
Vale lembrar que uma boa higiene bucal consiste na escovação
e no uso do fio dental, além da utilização de um raspador lingual, após todas
as refeições.
Fonte | Revista Galileu
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