Uma empresa escocesa que vale vários milhões de libras
esterlinas ganhou prêmios por seu sucesso de exportação ao fornecer a
pesquisadores do mundo inteiro partes de pessoas - e seus resíduos.
A Tissue Solutions, com sede em Glasgow, na Escócia, se
define como um "banco biológico".
Ela organiza amostras de tecido humano a serem coletadas e
entregues em todo o mundo.
"Cientistas e laboratórios precisam de tecido humano
para desenvolver e testar novos medicamentos", diz o fundador e CEO da
empresa, Dr. Morag McFarlane.
Ela disse à revista The Nine, da BBC escocesa: "Eles
precisam recorrer a alguém que possa coletar esse material eticamente e
gerenciar todo o processo para eles".
Para ser um sucesso de exportação, uma empresa precisa de
cérebros. A Tissue Solutions os possui, ou pelo menos pedaços de cérebros.
Eles também podem fornecer sangue, saliva e muito mais.
"Até cabelo", diz Morag.
"E coisas bizarras, como língua, dedos, dedos,
cocô."
Ah sim - amostras de matéria fecal.
Essa linha de produtos específica começou quando outra
empresa de Glasgow estava desenvolvendo um kit de teste caseiro para câncer de
intestino.
Eles estavam indo bem simulando o material misturando água
com uma certa marca de cereal matinal à base de farelo de trigo.
Mas à medida que a pesquisa avançava, a empresa precisava do
material real. Então eles ligaram para a Tissue Solutions.
"Nós contratamos um grupo, e eles recrutaram doadores,
coletaram as amostras, processaram-nas e depois a empresa obteve os
dados", diz McFarlane.
Existem outras formas de adquirir as amostras, todas elas
certificadas como éticas.
No caso de tumores, pacientes de hospitais na Escócia
automaticamente consentem em ter amostras usadas para propósitos de pesquisa.
Grupos de voluntários ajudam com outras mercadorias.
Alguns concordam que um buraco de 5mm seja feito em sua
pele.
Pessoas com psoríase (uma doença de pele) costumam ser
doadoras de pele com boa vontade, já que suas amostras podem levar a novos
tratamentos.
Os tecidos e resíduos podem ser armazenados em qualquer
lugar e entregues em qualquer lugar, desde que o fornecimento seja ético.
Isso significa que pouco do material realmente passa pela
sede da Tissue Solutions, no Parque Científico do Oeste da Escócia.
Entregas fresquinhas
Organizar entregas é o trabalho da gerente de logística e
transporte Laura White.
"Eu tenho muitos envios acontecendo hoje,
principalmente sangue", diz ela.
"Eu tenho amostras de urina que vêm da Bulgária e da
Romênia, e ambas estão chegando a um cliente no Reino Unido."
"Então, logisticamente, o negócio é manter o controle
disso todos os dias, ver o que está sendo enviado, se foi entregue, levar o
produto para o cliente."
Esses clientes não estão procurando por qualquer sangue,
cuspe ou xixi.
Frequentemente, eles querem testar a eficácia dos
medicamentos em amostras de pessoas com a doença que estão tentando combater.
As amostras podem ser enviadas em temperatura ambiente, como
é o caso de tecidos preservados em blocos de cera de parafina.
Elas também podem ser congeladas e mantidas em gelo seco a
-80 graus Celsius.
Uma utilidade de amostras de tumores recém-retirados é para
pesquisas que tentam transformar o sistema imunológico do paciente contra o
câncer.
"As pessoas querem tumores novos", diz o Dr.
McFarlane, "para que possam avaliar, no tumor real, qual o efeito da droga
no sistema imunológico, se pode realmente estimular o sistema imunológico a
atacar o tumor e começar a matá-lo".
O mercado de tecidos humanos e biomateriais está crescendo.
Um fator é a campanha contra os testes em animais.
Outro é que a biologia animal não é biologia humana. Um
tratamento que funcionou bem no laboratório pode falhar quando administrado a
seres humanos.
Os negócios internacionais da Tissue Solutions vêm crescendo
desde a sua fundação há 12 anos. Agora empregam 25 pessoas.
Sucesso de exportação
O Departamento de Comércio Internacional do Reino Unido
aponta para o setor como um exemplo. No ano passado exportou quase £ 25 bilhões
(aproximadamente R$ 125 bi) somente em produtos medicinais e farmacêuticos.
Mas é só mencionar a incerteza em torno de Brexit e Dr
McFarlane geme.
A empresa ganhou duas vezes o Prêmio de Empreendimento da
Rainha pelo sucesso de suas exportações. Suas vendas no exterior cresceram mais
de 200% em três anos.
Estão determinados a evitar que o Brexit não interrompa
isso.
"Criamos duas novas empresas, uma em Dublin, na
Irlanda, e outra em Lyon, então, se precisarmos, podemos a trabalhar com essas
empresas para facilitar as coisas", diz McFarlane.
A taxa de retorno de clientes da empresa está em 80%, uma
indicação de alta satisfação.
Mas não é possível agradar a todos.
Eles receberam um pedido de um material específico.
Desculpe, mas estamos falando de cocô de novo.
As amostras foram congeladas, seladas, embaladas e enviadas.
Mas o cliente reclamou. O cocô era "muito
fedorento".
A Dr. McFarlane ri: "Não tivemos resposta para
eles".
"Nós não poderíamos dizer 'o que você esperava?' Mas
foi o que todos pensamos."
Fonte | BBC BRASIL
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