O aquecimento global pode levar a temperatura do planeta a
nível semelhante de 125 mil anos atrás, quando os oceanos eram até nove metros
mais altos
Há 125 mil anos, em um breve período entre eras glaciais, a
temperatura era apenas um pouco maior que hoje. O nível do mar, no entanto, era
entre seis e nove metros mais alto, deixando submersas muitas áreas que hoje
conhecemos como terra firme.
Segundo um documento divulgado durante uma reunião da União
Geofísica Americana, em Washington, nos Estados Unidos, esse volume de água
extra do período Eemiano veio do colapso do manto de gelo no oeste da
Antártida. Por ter base abaixo do nível do mar, o aquecimento das águas
oceânicas tem forte influência sobre essa parte do manto de gelo, que derrete
rapidamente.
O problema é que a temperatura global está cada vez mais
próxima da de 125 mil anos atrás. “O grande aumento na perda de massa observado
na última década ou duas talvez seja o começo desse processo, e não um
acontecimento de curto prazo”, afirmou Jeremy Shakun, paleoclimatologista do
Boston College.
Se for assim, o mundo talvez precise se preparar para o
aumento nível do mar mais rápido do que o esperado: uma vez que o antigo
colapso da camada de gelo começou, as águas oceânicas subiram cerca de 2,5
metros por século.
Durante o Eemiano, a temperatura global era 2°C acima dos
níveis pré-industriais (em comparação com 1°C hoje). Os gases de efeito estufa
não foram os responsáveis pelo aquecimento, e sim as pequenas mudanças na
órbita e no eixo de rotação da Terra. A Antártida era, inclusive, mais fria do
que é hoje. O mistério era o que teria causado o aumento do nível do mar,
descoberto por meio de fósseis de corais em áreas secas.
A pesquisa
Um grupo de geólogos glaciais da Universidade Estadual de
Oregon, também nos Estados Unidos, focou seus esforços de pesquisa no extremo
sul do planeta. Os cientistas começaram usando núcleos de sedimentos marinhos
ao longo da borda do manto de gelo ocidental. Estudando 29 núcleos,
identificaram assinaturas geoquímicas para três diferentes regiões de origem: a
montanhosa Península Antártica; a província de Amundsen, perto do mar de Ross;
e a área intermediária, ao redor da geleira Pine Island, que é bastante
vulnerável ao degelo.
Com essas impressões digitais, a equipe analisou os
sedimentos marinhos de um único núcleo, perfurados mais longe no mar de
Bellingshausen, a oeste da Península Antártica. Uma corrente estável circula ao
longo da plataforma continental da Antártida Ocidental, coletando sedimentos
pelo caminho.
A corrente despeja grande parte desse lodo perto do local do
núcleo, onde se acumula rapidamente e captura microorganismos com casca
chamados foraminíferos, que podem ser datados comparando suas proporções de
isótopos de oxigênio com aquelas em núcleos com datas conhecidas. Ao longo de
um trecho de 10 metros, o núcleo continha 140 mil anos de sedimentos.
Durante a maior parte desse período, esses sedimentos
continham assinaturas geoquímicas de todas as três regiões do leito da
Antártica Ocidental, relatou a equipe, sugerindo erosão contínua por gelo. Mas
em uma seção datada do início do Eemiano, as impressões digitais se apagaram:
primeiro da geleira Pine Island, depois da província de Amundsen.
Suas conclusões, no entanto, ainda são preliminares. A
datação não é precisa, significando que a erosão pode ter ocorrido em outra
época, e as próprias correntes oceânicas podem ter mudado temporariamente ao
longo dos milênios, o que acabaria com toda a hipótese.
Para tirar a prova, um navio parte em janeiro para uma nova
rodada de pesquisas com duração de três meses. A ideia é fazer a perfuração de
mais cinco núcleos marinhos ao largo da Antártida Ocidental.
O objetivo é que os resultados fiquem prontos antes da
conclusão do próximo relatório climático do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas. Nos relatórios de 2001 e 2007, o colapso da Antártida
Ocidental não foi sequer considerado em estimativas do nível do mar no futuro.
Suas descobertas podem indicar que, se a temperatura do planeta chegar próxima
da que era durante o Eemiano, o nível do mar também acompanhe o aumento, com
consequências ainda pouco exploradas pela ciência.
Via | GALILEU
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