Desde os nossos ancestrais, os Australopithecus, ao Homos
sapiens moderno, o cérebro humano triplicou de tamanho.
cérebro humano é desproporcionalmente grande. E embora uma
abundante massa cinzenta confira certas vantagens intelectuais, sustentar um
cérebro do tamanho do nosso é custoso – consome um quinto da energia do corpo.
Trata-se de uma excentricidade que sempre intrigou os cientistas:
enquanto a maioria dos organismos se desenvolve com cérebros pequenos, ou até
nenhum, os humanos optaram por sacrificar parte de seu crescimento corporal
para ter maior capacidade cerebral.
Nesta quarta-feira (23), cientistas afirmaram ter finalmente
conseguido desvendar como e porque isto aconteceu.
O cérebro humano, sugerem, expandiu-se, sobretudo, em
resposta aos estresses ambientais, que forçaram nossa espécie a criar soluções
inovadoras para conseguir comida e abrigo, e passar os ensinamentos aos
descendentes.
A descoberta desafia uma teoria popular, segundo a qual o
órgão do pensamento cresceu à medida que as interações sociais entre os humanos
foram se tornando cada vez mais complexas, escreveram dois autores de um estudo
publicado na revista científica Nature.
Na verdade, o contrário pode ser verdade.
"As descobertas são intrigantes porque sugerem que
alguns aspectos da complexidade social mais provavelmente são consequências do
que causas do grande tamanho do nosso cérebro", escreveu o coautor do
estudo, Mauricio Gonzalez-Forero, da Universidade de Saint Andrews, na Escócia.
"É mais provável que o grande cérebro humano se origine
de uma cultura cumulativa e solucionadora de problemas ecológicos do que da
socialização".
Dos nossos ancestrais, os Australopithecus, ao Homos sapiens
moderno, o cérebro humano triplicou de tamanho.
Mas alimentar um cérebro tão grande ocorreu, sugerem, ao
custo de um crescimento corporal lento na infância, deixando nossas crianças
dependentes e vulneráveis por mais tempo do que outros filhotes.
Cérebro versus vigor?
Estudos anteriores já tinham encontraram correlações entre
cérebros grandes em espécies e estruturas sociais complexas, vivendo em
ambientes desafiadores, e a capacidade de aprender com os pares - algo descrito
como "cultura".
Mas nenhuma pesquisa havia conseguido concluir se estes
fatores eram causa ou consequência da expansão do cérebro.
Junto com o colega Andy Gardner, Gonzalez-Forero desenvolveu
um modelo matemático para checar se seria possível mensurar o impacto no
crescimento cerebral ao ser confrontado com problemas ecológicos e sociais, e
em caso afirmativo, quanto.
Apresentou-se aos "cérebros" da modelagem desafios
ecológicos – encontrar presas no mau tempo ou em terrenos acidentados, por
exemplo, preservar a comida para protegê-la de mofo ou do calor, ou armazenar
água em meio à seca.
Desafios sociais também foram introduzidos para testar a
influência no crescimento cerebral da cooperação e da competição entre
indivíduos e grupos.
Curiosamente, a cooperação foi associada a um declínio no
tamanho do cérebro, destacaram os pesquisadores, provavelmente porque permite
aos indivíduos contar com os recursos dos demais e poupar energia ao
desenvolver cérebros menores.
"Nós descobrimos que problemas ecológicos com
dificuldades crescentes fazem os cérebros se expandirem, mas as demandas
sociais não resultam em cérebros humanos grandes", declarou
Gonzalez-Forero.
Mas, por que os cérebros humanos crescem mais do que os de
outros animais que vivem em ambientes desafiadores?
Provavelmente por causa da cultura: a capacidade de aprender
habilidades com os outros ao invés de ter que descobrir tudo por si próprio.
"Portanto, nossos resultados sugerem que é a interação
da ecologia dura e a cultura que produziram o tamanho do cérebro humano",
disse Gonzalez-Forero.
Via | G1
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