Um novo estudo aponta para outra consequência inesperada do
desmatamento: redução do rendimento pesqueiro.
A pesquisa explorou como o desmatamento ao longo da planície
de inundação do rio Amazonas afeta a produção de pesca. O estudo, liderado pelo
doutor Leandro Castello, professor do Departamento de Pesca e Conservação da
Vida Selvagem na Faculdade de Recursos Naturais e Meio Ambiente do Instituto
Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia, conhecida como Virginia Tech,
no estado da Virgínia, Estados Unidos, foi publicado na versão on-line do
periódico científico Fish and Fisheries em 14 de dezembro.
Aproximadamente um terço da produção mundial de peixes
capturados selvagens vem dos trópicos. As pescas continentais são vitais para a
produção de alimentos. A qualidade da área de terra adjacente a um rio, a
denominada planície de inundação, pode desempenhar um papel importante na
produção de pesqueira.
“As florestas das planícies de inundação podem fornecer
estruturas que protegem peixes e suas proles, e fornecem habitat para insetos
que muitas espécies de peixes contam como alimentos. Essas florestas também
produzem plantas das quais os peixes também podem se alimentar”, disse
Castello, que também é afiliado Global Change Center, alojado no Fralin Life
Science Institute da Virginia Tech.
A coautora Victoria Isaac, professora da UniversidadeFederal do Pará, foi responsável pela coleta dos dados de pesca. “O estudo tem
implicações diretas para o gerenciamento e conservação da Amazônia”, disse ela.
“O uso não planificado da terra e outros projetos humanos estão mudando
drasticamente a paisagem da Amazônia. As políticas para proteger o meio
ambiente e evitar o desmatamento devem ser mais fortes para garantir a
segurança alimentar das populações locais e os rendimentos da pesca”.
Para determinar o quão forte é a associação entre as
populações de peixes e as florestas da planície de inundação, os pesquisadores
compilaram dois conjuntos de dados. O primeiro incluiu rendimentos de pesca ao
longo de um período de doze anos na área de estudo de mil quilômetros
quadrados. Os pesquisadores criaram um mapa dos 1.500 lagos da região e
entrevistaram pescadores locais sobre os tipos e quantidades de peixes
capturados em diferentes áreas. Usando esses dados, a equipe determinou quais
áreas específicas renderam a maioria dos peixes.
Os pesquisadores usaram imagens de satélites da NASA para
compilar um segundo conjunto de dados sobre recursos do habitat nas mesmas
áreas a fim de determinar se a presença de floresta nas planícies de inundação
afetou os rendimentos oriundos da pesca.
A coautora Laura Hess, pesquisadora associada do Instituto
de Pesquisas da Terra da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara,
acrescentou: “Um estudo de pesca e cobertura terrestre florestal nessa escala
não havia sido feito na Amazônia, por isso foi muito satisfatório quando
encontramos uma forte evidência de uma correlação”.
“Recolhemos cerca de trinta e seis mil pontos de dados
separados que foram plotados para fazer um mapa de onde os peixes vieram”,
disse Castello. “Essencialmente, queríamos saber se os rendimentos com a pesca
em áreas de planícies de inundação da floresta Amazônica preservada são maiores,
iguais ou menores do que os rendimentos das áreas onde a floresta foi
desmatada”, explicou.
“Nossos resultados indicaram que os lagos com florestas
inundáveis proporcionavam aos pescadores maiores rendimentos de peixes”,
continuou ele. “Isso nos permite inferir que, se você cortar as florestas, os
rendimentos com a pesca nesses lagos diminuirão. O desmatamento tropical não é
apenas uma questão terrestre — também pode diminuir o número de peixes
disponíveis para algumas das populações mais pobres do mundo”.
Pecuária e pesca
A conversão das florestas tropicais em culturas e pastagens
tem sido uma preocupação para os cientistas, uma vez que a perda da floresta
pode levar a uma diminuição das chuvas, ao aumento das secas e a degradação dos
ecossistemas de água doce.
“O conflito entre a criação de gado e a gestão da pesca é
uma preocupação que é compartilhada com os residentes das planícies de
inundação, mas não haviam sido feitos estudos rigorosos de como a perda de
floresta afeta a produtividade da pesca nessas planícies de inundação”,
explicou o coautor David McGrath, vice-diretor do Earth Innovation Institute
(em tradução livre, Instituto de Inovação da Terra) sediado em São Francisco,
Califórnia.
“Nossos resultados indicaram que os lagos com florestas
inundáveis proporcionavam aos pescadores maiores rendimentos de peixes”,
continuou ele. “Isso nos permite inferir que, se você cortar as florestas, os
rendimentos de peixes nesses lagos diminuirão. O desmatamento tropical não é
apenas uma questão terrestre – também pode diminuir o número de peixes
disponíveis para algumas das populações mais pobres do mundo”.
No futuro, os pesquisadores esperam ampliar a abrangência do
estudo procurando verificar outras possíveis variáveis que possam afetar a
produtividade da pesca, como a profundidade e as conexões entre os lagos
estudados. Por enquanto, no entanto, Castello explica que as implicações
políticas do estudo são claras.
“Você tem que proteger esses habitats se quiser manter a
produção de alimentos e a renda que os rios fornecem” , disse Castello. “As
planícies de inundação do rio produzem mais peixes do que qualquer outro
sistema de água doce no mundo. Agora, a Amazônia é única bacia em que a maior
parte de suas planícies de inundação ainda estão intactas, mas se as florestas
continuam sendo reduzidas e os habitats são alterados, isso diminuirá a renda
com que os pescadores têm para comer e ganhar a vida. Se não protegemos essas
áreas, perdemos os rios e perdemos os peixes”.
McGrath acrescenta: “Este artigo nos dá as ferramentas de que
precisamos para mostrar as trocas existentes entre a criação de gado e o
gerenciamento das planícies inundáveis de pesca. Podemos usar esse trabalho
para mostrar às comunidades o que elas perdem por não controlar a densidade de
gado em planícies de enchentes e ao converter floresta em pastagem.”
Fonte: Virginia Thec
Referência:
CASTELLO, L. et al. Fishery yields vary with land cover on
the Amazon River floodplain. Fish and Fisheries (on line), 14 de dezembro 2017.
DOI: 10.1111/faf.12261. Disponível em:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/faf.12261/full. Acesso em 19 de
dezembro de 2017.
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