Pesquisa feita com 46 mil mulheres comprova que aquelas que
usaram pílulas tiveram menos chances de desenvolver três tipos de câncer
(Montagem sobre fotos | iStock/iStock) |
Em meio ao mar de polêmicas e pesquisas inconclusivas sobre
os efeitos colaterais causados por anticoncepcionais, eis um estudo mais
certeiro: o uso do medicamento não aumenta as chances de câncer, e tomar pílula
pode diminuir os riscos de desenvolver alguns tipos da doença. A descoberta é
de uma pesquisa feita pela Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, ao longo
de 44 anos com 46 mil mulheres – considerada a mais longa já feito sobre o
assunto.
A ideia de que os comprimidos anticoncepcionais podem ter
relação com o surgimento de câncer está muito atrelada ao estrogênio. No
organismo, ele é sintetizado pelos ovários e responsável por controlar a
ovulação e preparar o corpo da mulher durante a gravidez, distribuindo gordura
e estimulando o desenvolvimento mamário, por exemplo. Nas pílulas, combinado
com a progesterona, ele engana o organismo para evitar a contracepção. O grande
problema é que o estrogênio também é conhecido por “alimentar” alguns tipos de
tumor e, por isso, existe o medo de que o uso de anticoncepcionais poderia
aumentar as chances de câncer a longo prazo.
No entanto, os cientistas de Universidade de Aberdeen
descobriram que as mulheres que usavam pílula estavam menos propensas a ter
câncer de ovário, endométrio e intestino que aquelas que nunca haviam utilizado
pílula. Eles perceberam que tomar o medicamento por algum tempo diminui o risco
de câncer de intestino em 19%, de endométrio em 34% e de ovários em 33%. Isso
significa que uma a cada três mulheres que poderiam ter sido acometidas pela
doença nos ovários ou no endométrio foi “protegida” pelo uso da pílula. Nos
casos de câncer de intestino, a proporção é uma a cada cinco.
Os pesquisadores também analisaram os riscos de todos os
tipos de câncer em mulheres que tomaram anticoncepcionais durante os anos em
que estavam em idade reprodutiva, e concluíram que o uso da pílula não aumentou
as chances de desencadearem a doença mais tarde na vida.
O estudo começou a ser desenvolvido pelo Royal College of
General Practitioners, em 1968, sete anos depois que os primeiros
anticoncepcionais passaram a ser prescritos na Inglaterra, para monitorar os
impactos futuros da substância na saúde das mulheres. Os resultados foram
publicados no periódico American Journal of Obstetrics and Gynecology.
A líder da pesquisa, Lisa Iversen, afirma que as conclusões
são tranquilizadoras e valem as quatro décadas de investigação. “As usuárias de
anticoncepcionais não aumentaram suas chances de desenvolver câncer e o efeito
protetor contra alguns tipos da doença pode durar, pelo menos, 30 anos. Os
resultados são uma forte evidência de que as mulheres não estão se arriscando
por escolherem contraceptivos orais.”
A presidente da Royal College of General Practitioners,
Helen Stokes-Lampard, alerta para que a pílula não seja prescrita como uma
medida preventiva contra o câncer, porque algumas mulheres apresentam outros
tipos de efeitos colaterais ao usar a substância. Ela também defende que o
estudo será útil no dia a dia dos consultórios, na busca de um método
contraceptivo que se adapte à saúde e às necessidades de cada paciente
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