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Estudo com gêmeos revela os efeitos do espaço no nosso DNA

    (Robert Markowitz | NASA)

Scott Kelly passou um ano na Estação Espacial Internacional. Seu irmão gêmeo, Mark, ficou na Terra. E a NASA descobriu o que o espaço fez com seus genes.

Os irmãos Kelly se tornaram astronautas da NASA, ao mesmo tempo, em 1996 – e, com essa escolha de carreira, acabaram doando a vida inteira para a ciência. Em um experimento inédito chamado de Estudo dos Gêmeos (é claro), 12 universidades se debruçaram sobre os amostras do corpo dos dois para tentar entender como o corpo humano reage ao espaço. E a NASA acaba de divulgar os primeiros resultados dessa pesquisa.

Scotty Kelly ficou 340 dias na Estação Espacial Internacional. A ideia é que ele permanecesse fora do planeta por um intervalo equivalente à duração de uma missão à Marte. Assim, teríamos uma ideia melhor dos riscos que uma viagem ao Planeta Vermelho traria.

Por sorte, Scott Kelly dividiu o útero e praticamente todo seu DNA com seu irmão Mark Kelly. Mark passou apenas 54 dias no espaço há mais de 10 anos, mas se aposentou para cuidar da esposa (Gabrielle Giffords, política americana que sofreu uma tentativa de assassinato  e até hoje lida com as sequelas).

Uma vez que estava na Terra, Mark automaticamente se tornou um “experimento de controle”. Todos os exames, testes e estudos feitos com Scott foram comparados com amostras de Mark para entender o que era normal e o que era efeito da longa exposição ao espaço – já que, em termos de genética, ambos são praticamente idênticos.

Alguns dos efeitos observados por outros astronautas também foram sentidos por Scott: problemas de visão, perda de densidade óssea, dificuldade de circulação e um rostinho inchado (porque a microgravidade não puxa o sangue para as pernas como na Terra).

Mas o Estudo dos Gêmeos é o primeiro a conseguir medir o impacto do espaço no material genético. Com a exposição prolongada à radiação cósmica, os pesquisadores imaginavam impactos significativos no DNA de Scott, comparado ao de Mark – só que a mudança não foi bem a que eles esperavam


Telômeros e velhice

O envelhecimento humano é um processo complexo e a ciência ainda não consegue explicá-lo completamente. Mas um dos fatores relacionadosa ele acontece nos nossos cromossomos: conforme os anos passam, as pontinhas dos cromossomos, chamadas de telômeros, vão encurtando.

A tese era que, com o estresse que o corpo sofre no espaço, junto com a radiação, os telômeros de Scott ficassem mais curtos do que o normal para a sua idade. Mas não foi o que aconteceu: enquanto ele estava no espaço, seu telômeros cresceram e ficaram maiores do que os de Mark, na Terra.

Os pesquisadores que fizeram a análise acham que a mudança pode ser atribuída à dieta e ao rígido ritmo de exercícios que Scott seguia na Estação. Mas não pode ser só isso – porque ao chegar na Terra, os telômeros dele voltaram ao tamanho que estavam antes da viagem.

Esse não foi o único mistério genético que a pesquisa observou. A metilação do DNA também mudou. Esse processo acontece quando o corpo adiciona pequenos compostos orgânicos chamados metil a diferentes áreas do DNA. Uma área com grande concentração de metil, acreditam os pesquisadores, geralmente significa que os genes naquela região foram “desativados” pelo próprio corpo.

Esse processo todo diminuiu de ritmo no corpo de Scott, modificando menos genes. No corpo de Mark, ele aumentou. E os cientistas ainda não sabem o motivo.

Por fim, os pesquisadores fizeram o sequenciamento completo do DNA dos dois. Eles variavam pouco em termos genéticos – algumas centenas de mutações individuais, muito normal, mesmo para gêmeos. Só que eles também analisaram o RNA, uma forma mais simples de material genético. E, nesse caso, a diferença na expressão dos genes foi bem maior: mais de 200 mil variações entre os astronautas.


A ideia agora é analisar cada uma dessas mudanças de perto – e descobrir se existe algum gene “espacial”, que tenha sido modificado ou ativado simplesmente pela presença prolongada fora do planeta. O Estudo dos Gêmeos deve ser terminado nos próximos 2 anos – e aí vai dar para saber, com mais certeza, os efeitos duradouros das viagens além-Terra.

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