Já sabíamos que o fundo do mar é cheio de criaturas de dar
pesadelos — amálgamas retorcidas de dente, mandíbula e barbatana vieram à vida
de algum canto torturado do multiverso. Mas a boa notícia é que… fica ainda
mais estranho! Cientistas agora descobriram que um predador do mar profundo tem
um acessório entre sua cabeça e seu crânio que lhe permite abrir sua mandíbula
como um porta-balas.
Essa foi a conclusão de um estudo publicado nesta semana na
PLOS One, em que os biólogos Nalani Schnell e David Johnson descrevem uma
característica bizarra do peixe-dragão-do-mar-profundo. O temido predador se
esconde na má iluminada “zona crepuscular”, que fica entre 182 metros e 914
metros abaixo da superfície. Medindo apenas alguns centímetros, essa criatura é
um espetáculo de se ver, com seu conjunto duplo de dentes farpados, um estômago
distensível e barbelas de queixo bioluminescentes, para atrair as presas.
Agora, para somar ao show de horrores, parece que alguns
peixes-dragão-do-mar-profundo tem uma conexão bem flexível entre sua cabeça e
seu corpo, o que lhes permite atingir uma bocada bem ampla com ângulo de 120
graus.
“Certamente não sabemos de outros peixes com essa
característica”, contou ao Gizmodo Johnson. Maior parte dos vertebrados tem
articulações osso a osso entre a cabeça e o pescoço, incluindo nós, ele
acrescentou.
A descoberta veio por meio do trabalho de dissertação de
Schnell, que focou na anatomia particular da vértebra superior do
peixe-dragão-do-mar-profundo. A pesquisa inicial da cientistas mostrava que
essas criaturas tinham uma “abertura flexível” entre os ossos occipitais e a
base do crânio e a primeira vértebra ossificada do pescoço. Dentro dessa região
de flexão, o tecido notocórdio (um material com aspecto de cartilagem que
percorre as espinhas de todos os vertebrados) carece do revestimento externo
ósseo típico.
Agora, por meio de um estudo anatômico mais detalhado de
espécimes de museu, Schnell e Johnson descobriram que, em pelo menos cinco
gêneros de peixes-dragão-do-mar-profundo, o intervalo entre a cabeça e o
pescoço é, na verdade, uma articulação completamente desenvolvida, que permite
que a notocorda “se dobre como um lençol em torno da cabeça”, como coloca
Johnson. Isso dá ao animal um surpreendente alcance amplo de mobilidade do
crânio — e lhe permite abrir a mandíbula em ângulos assombrosos para capturar toda
a presa.
“Talvez haja outros peixes com uma bocada tão grande como
essa, mas, se houver, é apenas para demonstração, e não para capturar presas
grandes. Além de não terem mobilidade entre a coluna vertebral e a caixa
craniana”, disse Johnson.
Infelizmente, é quase impossível trazer um
peixe-dragão-do-mar-profundo à superfície e mantê-lo vivo para estudo (suas
condições ambientais, incluindo as pressões extremamente altas encontradas no
fundo do mar, são muito difíceis de serem replicadas em laboratório). Para
conseguir mais informações sobre como o peixe-dragão-do-mar-profundo usa sua
cabeça flexível, Johnson e Schnell agora planejam estudar os grupos musculares
associados.
Até que obtenham mais respostas, cabe a nós imaginar como
pode ser encontrar uma dessas feras famintas na vida real.
[PLOS One]
Via gizmodo
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