A matéria orgânica se decompõe, e o sedimento toma seu lugar
durante o processo de fossilização, transformando ossos em pedra. Tecido macio
e proteínas não permanecem. Mas pelo menos no osso da costela de um dinossauro
de 195 milhões de anos, uns pedaços antigos de colágeno acharam um jeito de
“sobreviver”.
Um time de cientistas chineses, taiwaneses e canadenses usou
uma espécie de acelerador de partículas, chamado de síncrotron, para projetar
uma amostra de costela do lufengossauro, um “pequeno” dinossauro de 6,09
metros, semelhante ao brontossauro encontrado na China, e acharam colágeno
dentro dela. Os cientistas também encontraram hematite, um mineral contendo
ferro, possivelmente vindo do sangue do dinossauro, o que provavelmente
contribuiu para a preservação dos pedaços de proteínas.
As proteínas são a maneira de se manifestar do DNA, então
restos dela podem ajudar os cientistas a conseguir informações sobre a biologia
dos dinossauros e sua evolução, algo que os fósseis não conseguem por si só.
Lufengossauro: (Imagem: Debivort/Wikimedia Commons) |
“Essa é, de longe, a evidência mais antiga de colágeno
encontrada em um fóssil”, contou ao Gizmodo Robert Reisz, paleontólogo da
Universidade de Toronto, Mississauga. “O trabalho mais antigo até então estava
na região de 65 milhões a 70 milhões de anos. Este tem 195 milhões de anos.”
A costela de lufengossauro em que foram encontradas as proteínas (Imagem: Robert Reisz) |
A equipe estudou a seção do osso de costela no Centro de
Pesquisa de Radiação Síncrotron, em Taiwan. Lá, ímãs fazem as partículas correr
quase 122 metros em volta de um polígono de vários lados, cuspindo partículas
de luz, chamadas fótons, em cada curva. Quando os fótons atingem os ossos de
dinossauro, os cientistas sabem que tipos de partículas estão dentro deles
baseados em como os ossos absorvem a luz.
Este método permitiu aos cientistas estudar o fóssil sem
destrui-lo, disse Reisz. Só precisaram fazer um corte para expor os canais
vasculares, regiões dentro do osso que teriam carregado veias e sangue.
Zoom do canal vascular com partículas escuras de hematite (Imagem: Robert Reisz) |
Os resultados, publicados nesta terça-feira no periódico
Nature Communications, revelou os tipos de traços de proteína que indicam
fragmentos de colágeno degradado, o que provavelmente compunha as paredes das
veias, e hematite contendo ferro, que possivelmente veio da hemoglobina, proteína
que transporta o oxigênio no sangue. “Isso é que é legal”, afirmou Reisz. “Há
uma associação entre essas proteínas e as partículas de hematite”, o que
significa que a hematite pode ter ajudado na preservação das proteínas.
Perguntamos como a equipe podia ter tanta certeza de que as
proteínas não eram de alguma fonte externa, e Reisz nos assegurou de que eles
usaram um protocolo increvelmente rigoroso para prevenir contaminação. Tão
rigoroso, aliás, que inicialmente estavam limpando e eliminando as proteínas de
dinossauro da amostra e só fizeram a descoberta após trocar o agente de limpeza
de água para álcool.
Outros cientistas ficaram empolgados com o resultado, mas
hesitam em cravar a descoberta. “É uma notícia fantástica e mostra mais
evidências de preservação de proteínas em espécimes de fóssil de milhões de
anos, reforçando nossas afirmações anteriores”, disse John M. Asara, professor
assistente da faculdade de medicina da Universidade de Harvard. “É difícil
provar a origem dessas ligações de proteína neste fóssil de 195 milhões de anos
sem proteínas ou sequenciamento de dados genéticos para sustentar sua origem.”
Para Reisz, a melhor parte do projeto foi sua
internacionalidade. “É muito legal conseguir essa colaboração em vários
continentes”, afirmou.
Via Gizmodo
Comentários
Postar um comentário