ÁGUA CORRENTE ESTARIA CRIANDO RASTROS QUE SURGEM EM
DEPÓSITOS DE SAL DURANTE O VERÃO MARCIANO
Na semana passada, a agência espacial americana divulgou um
comunicado que deixou muita gente ansiosa - a NASA marcou uma coletiva de
imprensa para a manhã desta segunda-feira (28) com o intuito de anunciar uma
"grande descoberta científica" relacionada a Marte. O evento começou
agora há pouco, por volta das 12h30 no horário de Brasília, e os pesquisadores
revelaram a descoberta de fortes evidências que indicam a existência de água
líquida na superfície marciana. Não estamos falando de leitos de rios, lagos ou
oceanos que existiram em um passado distante, mas de pequenos cursos d'água que
podem estar fluindo agora mesmo sobre o solo arenoso do planeta vermelho.
Há anos os cientistas sabem que existe gelo em determinadas
regiões de Marte, mas nunca haviam encontrado pistas concretas que mostrassem
H2O em estado líquido fluindo na superfície. As suspeitas começaram em 2010,
quando uma série de "rastros" sazonais foram verificados surgindo em
depósitos de sal localizados em encostas íngremes do planeta vermelho. A
principal hipótese era de que as linhas estavam sendo criadas justamente por
água líquida, só que até agora estavam faltando evidências mineralógicas fortes
o suficiente para sustentar a alegação.
Um artigo publicado hoje (28) no peródico Nature Geoscience
acaba de fornecer a análise detalhada que faltava sobre o fenômeno. O
pesquisador principal Lujendra Ojha, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, vem
estudando a formação dos rastros no sal durante os verões marcianos. Ele e sua
equipe notaram que, semana após semana quando as temperaturas estavam altas, as
linhas ficavam maiores - bem na época em que as condições são mais propícias
para a existência de água líquida. Os sais (perclorato e clorato de magnésio e
perclorato de sódio) ajudam a estabilizar a água corrente, para que não ferva
ou congele.
Quando chegava o inverno, os rastros iam sumindo aos poucos.
Estava bem claro para os cientistas o que acontecia ali, mas a prova definitiva
veio através do instrumento CRISM, acoplado à sonda Mars Reconaissance Orbiter,
da NASA. A equipe explicou que, até agora, não conseguiu flagrar diretamente a
água líquida porque a MRO passa sobre a região todos os dias às 15h da tarde,
momento em que o clima em Marte está mais seco e quente, fazendo com que toda a
água líquida evapore. Mas existem outras formas científicas de confirmar a
presença de um elemento, mesmo depois de ele não estar mais ali.
O CRISM extraiu informações expectrais dos depósitos de sal,
que mostraram traços químicos que indicavam, claramente, a presença de
moléculas de água em meio aos cristais. "O que quer que esteja fluindo em
Marte está hidratando o sal, e nós estamos vendo essa hidratação na assinatura
espectral", explicou Ojha a Wired. O grande mistério continua sendo de
onde a água líquida está vindo, além da quantidade presente.
Algumas ideias sugerem que o sal esteja captando a umidade
da atmosfera marciana, ou que os cursos de água sejam provenientes de gelo
subterrâneo que derrete e faz o líquido jorrar para a superfície. Outra
hipótese levanta a possibilidade de se tratar de um aquífero. Independente do
cenário que se mostrar correto em investigações futuras, é fato que, em
determinadas circunstâncias, a água líquida pode resistir às condições hostis
da superfície de Marte. E isso, por si só, já é uma grande notícia - indica que
o planeta vermelho pode, sim, abrigar vida. Inclusive vida humana.
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